A verdade que veio do frio é esta: depois do malogrado Stieg Larsson e da trilogia Millennium, o policial nórdico nunca mais foi o mesmo. A concorrência apertou e as edições sucederam-se, entre escritores a manter debaixo de olho e outros que poderiam ficar debaixo do gelo. Jo Nesbo, o norueguês que nos trouxe o inspector Harry Hole, parecia estar entre os melhores prosadores e criadores de livros com uma trama bem urdida, recheada de twists que levavam o leitor a dar voltas e voltas numa montanha-russa literária. Porém, a julgar pelo mais recente “Polícia” (Dom Quixote, 2016), o canto de cisne já era.
Desta vez, há um assassino à solta nas ruas de Oslo que selecciona a dedo as suas vítimas: polícias envolvidos em anteriores investigações de crimes que nunca foram seleccionados. A Brigada Anticrime anda aos papéis, mas depois dos acontecimentos ocorridos em “O Fantasma” parece uma utopia que Harry Hole, confinado agora a uma cama de hospital num estado comatoso, os possa ajudar.
A primeira metade do livro ainda pulsa, bem como o quase final que reserva uma artimanha Harry Holiana dos sete costados, mas o facto de o bad boy estar num estado tal que lhe poderia valer uma medalha de bom comportamento não ajuda a que este décimo livro com o selo do inspector seja um dos mais recomendados. Isto sem falar do encerramento, que mete à pressão uma forçosa continuidade à custa da menoridade. Podemos estar enganados – acreditemos que sim -, mas Harry Hole parece ter contraído uma das mazelas a que algumas uniões estão infelizmente condenadas: casou, pandou. Tem a palavra Jo Nesbo.
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