Um “especialista do efémero”. Foi este o epíteto escolhido por José Pacheco Pereira no lançamento de “Personalia” (Tinta da China, 2022 – reedição), uma antologia que, em duas partes distintas, viaja entre entradas mais ou menos ficcionadas de calendário e ensaios pessoais, onde tanto se descobre o escrutínio da vida política como a nostalgia das histórias aos quadradinhos.
Pacheco Pereira recorre à ideia de calendário para, entre factos e ficção, assinalar algumas efemérides, tendo como ponto de partida os diários de Samuel Pepys – que gravou a tinta o quotidiano da Londres do século XVII -, os Cadernos de Camus e calendários e cronologias diversas. Um conjunto de notas que teve publicação original no blogue Abrupto, onde Pacheco Pereira se divertiu durante uns bons anos (e que, sem nota de despedida, publicou a última entrada a 11 de Junho de 2016).
Quanto a Textos, reúne ensaios pelos quais Pacheco Pereira desenvolveu um carinho especial, e que versam sobre figuras políticas, referências aos clássicos , um mergulho na Twilight Zone e ódios (muitos) de estimação.
Um livro no qual, em jeito de carta de intenções, Pacheco Pereira coloca a conotação de “político” nas ruas da amargura, dizendo, ainda assim estar “de bem com a Polis”, mantendo a intenção de continuar a escrever sobre este tão desacreditado ofício. Faz ainda um resumo das suas actividades políticas, da escrita constante ou dos muitos livros que leu – destacando “A Montanha Mágica” de Thomas Mann -, recusando a ideia de deixar “obra” e colocando, no seu lugar, a imagem de “fragmentos”. Seja como for, quando daqui a muitos anos as gerações futuras quiserem saber quem foi Pacheco Pereira, este pequeno livro dar-lhes-á uma boa ideia.
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