“Estão sempre a dizer frases enigmáticas, nada fáceis de decifrar!“. Esta poderia bem ser uma frase proferida por qualquer catraio num Tedx infantil, numa conversa que poderia ter como tema coisas que os adultos utilizam para desconversar, mas que foi sacada a “Pergunta ao teu pai…e outras frases misteriosas dos adultos“ (bruáa, 2019), mais um divertido livro assinado pelo irrequieto Davide Cali e que conta com ilustrações de Noemi Viola.
Trata-se, como conta o pequeno narrador que passou demasiado tempo com eles mas ainda assim sobreviveu para escrever, de um pequeno guia para a interpretação dos adultos, revelando toda a verdade que se esconde atrás das muitas frases misteriosas com que a gente grande vai brindando os de menor idade há – arriscaríamos – séculos.
O modelo para cada uma das páginas duplas deste precioso manual é o mesmo: a resposta do adulto, o devido enquadramento da pergunta do catraio, uma descrição/interpretação do palavreado usado e a verdadeira resposta ou lição a tirar daquilo tudo.
Aqui encontramos as respostas clássicas com que muito boa gente tem crescido ao longo dos anos sem falhar uma geração, como “talvez, vamos a ver…”, “pergunta ao teu pai/à tua mãe” – normalmente quando surgem questões como o que quer dizer homossexual ou como é que se fazem os bebés -, “porque” – palavra que habitualmente serve para começar uma frase mas que aqui é antes um afirmativo ponto final – ou o clássico dos clássicos “quando eu tinha a tua idade” – que normalmente dá início a uma longa e geralmente aborrecida conversa.
Não faltam também algumas das perguntas tontas que os adultos fazem à criançada, como “estás a ouvir?”, “o que é que queres comer?” – como se isso fosse uma escolha (se fosse seriam sempre batatas fritas) – ou, outro clássico, “como é que sabes se não é bom sem sequer provar?”.
Para o final ficam duas páginas inteiras de linhas bem desenhadas, para que cada futuro adulto possa escrever “outras frases que descobri” e, quem sabe, rir-se delas quando as usar no futuro passando assim o misterioso testemunho na insondável arte de educar alguém. Mais um exemplo do irreverente sentido humor de Cali, aqui servido pelas deliciosa e muito infantis – como se exigia – ilustrações de Noemi Vola.
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