A azáfama instalou-se e a folia tomou lugar no Comboio Literário Folio que, até ao próximo dia 2 de Outubro, ligará a capital portuguesa à vila literária de Óbidos, com dois horários de ida (10h25 e 17h55) e outros dois para o regresso (15h17 e 00h35). O bilhete de ida e volta vale nove euros e meio por passageiro – cinco euros para uma só viagem – e dá direito a 50 por cento de desconto nas mesas de autores e nos concertos da segunda edição do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos.
O mote deste ano é a Utopia, e utilizar a tão falada linha do Oeste faz parte disso mesmo, produzir mudança e gerar dinamismo. A bordo do comboio tornou-se difícil ouvir curadores e diversos entrevistados, mas todos eles deram destaque aos maiores nomes que enriquecem as inúmeras iniciativas que integram cada uma das cinco curadorias e à quantidade de propostas para todos os gostos, que totalizam mais de 200 acontecimentos ao longo dos onze dias de Festival.
“…Há entre os utopianos uma quantidade de coisas que eu aspiro ver estabelecidas em nossas cidades.
Aspiro, mais do que espero.”
UTOPIA, de Thomas More
A utopia e os seus utopianos são convocados a celebrar a palavra, o livro, a música, a ilustração, o cinema e o teatro e, claro, os autores, mas também os leitores, numa comunhão que celebra o mais recente título atribuído a Óbidos pela UNESCO: Óbidos – Cidade Criativa da Literatura.
Pela mão de cinco curadores, José Eduardo Agualusa, Anabela Mota Ribeiro, Maria José Vitorino, Mafalda Milhões e José Pinho, encontramos um programa vasto, internacional e que procura o lugar certo para cada leitor, mas também para cada autor, sejam eles escritores, ilustradores, músicos ou professores. A proximidade e a dinâmica são palavras de ordem, tal como celebração e concentração de cultura no espaço literário em que Óbidos se tornou.
O traço que une todos os pontos desta utopia pode muito bem ser a bóia de salvação ou a âncora que a cultura representa, em tempos de descrença. Nas palavras de Anabela Mota Ribeiro, “seria bom que todos tivéssemos um pouco de utopistas como temos de loucos.”
Loucos ou não, o FOLIO está disponível para todo o tipo de degustações: há livros comestíveis (que isto já não é só terra de boa ginga!), Harry Potter no comboio literário, exposições, teatro e poesia a acontecerem diariamente e um leque de autores que dá quase para dar a volta. As propostas são imensas e até se torna difícil optar, mas para facilitar hoje foi dia de destaque total para a estreia mundial de “O Lagarto” e a vinda de V.S. Naipaul, Nobel da Literatura em 2001.
O presidente da Câmara Municipal, Humberto da Silva Marques, apelida estes onze dias de “concretização quimérica”. Uma utopia que se materializa e que dá sentido à estratégia pensada para Óbidos Vila Literária.
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