“Os Vingadores do Novo Mundo” (Goody, 2018) é o volume que encerra a trilogia escrita por Ta-Nahesi Coates. No livro anterior vimos a rebelião chegar ao fim, no rescaldo de uma batalha entre mortos e vivos, monstros enraivecidos contra os espíritos ancestrais de Wakanda – o volume II terminava assim ,com a reconciliação das várias facções renegadas e a promessa de se entenderem acerca do futuro da nação africana.
No início do terceiro tomo, T’Challa e a sua irmã Shuri investigam uma série de portais de luz que surgem um pouco por todo o reino, de onde saem criaturas de pesadelo dispostas a destruir tudo à sua passagem. Num texto menos politizado, a ênfase passou a estar nos combates, mostrando o lado mais aguerrido do Pantera Negra. O herói atravessa este Volume III menos dividido em relação ao seu papel como monarca, e mais confiante na sua própria pele.
Há também, neste volume, algumas flechadas do Cupido: T’Challa está cada vez mais próximo de Ororo, a Tempestade, antiga Rainha de Wakanda, e é dado algum espaço às reviravoltas da relação. Entretanto, por detrás do pano, novos e perigosos inimigos engendram ameaças ao Pantera Negra e aos que o rodeiam. Além disso, a telepata Zenzi ainda se mantém a monte, bem como o seu aliado Zeke Stane.
Em relação aos dois volumes que o precedem, há algo que salta à vista: a qualidade da arte, a cargo de Wilfredo Torres e Chris Sprouse, está um ou dois furos abaixo comparada com o início da série – algumas pranchas apresentam mesmo problemas de proporção e perspectiva. Outras há que compensam estes desequilíbrios – as bem conseguidas páginas dedicadas à Tempestade em pleno voo, por exemplo. Quanto à história, Coates carregou nas cores da acção, com o Pantera Negra a ter de enfrentar várias batalhas dinâmicas e arriscadas, com adversários poderosos. O tom grave e pomposo dos primeiros dois volumes, acompanhado de alguma dispersão, aparece mais atenuado e ligeiro neste terceiro livro.
Numa apreciação global, temos de dar a Ta-Nahesi Coates o mérito de fugir aos lugares-comuns habitualmente encontrados nos comics americanos de super-heróis, procurando construir uma narrativa adulta e complexa – como escritor e jornalista, o autor tem sido uma voz importante e respeitada na definição do que é ser-se negro na América do Norte, pelo que não surpreende que estas questões sejam centrais na trilogia.
Assim, em alguns pontos, fala-se de Wakanda como podia falar-se da América. Em última análise, a narrativa pode ler-se como um comentário às mais enraizadas questões identitárias da comunidade afro-americana – podem mesmo traçar-se alguns paralelos entre os desafios de T’Challa na liderança do seu povo e a passagem de Barack Obama pela Casa Branca.
O que é certo é que Ta-Nahesi Coates se tornou um valor seguro na banda desenhada – “Black Panther – World of Wakanda”, a mini-série que escreveu com a escritora Roxane Gay já em 2018, ganhou há dias o prestigiado prémio Eisner para melhor mini-série do ano.
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