“Pai, e se ficares sem palavras?” (Fábula, 2025) é um livro divertido, onde o diálogo e a arte de perguntar estão bem presentes ao longo da narrativa e não apenas no título. Um verdadeiro livro perguntador.
Tudo começa nas guardas iniciais, onde o leitor poderá observar uma menina em diferentes posições: deitada, sentada, enrolada em si mesma, ajoelhada, a fazer a ponte ou o pino. Imagens que serão reconhecidas, pelo leitor, ao longo do diálogo, enquanto a miúda perguntadora veste, em cima da cama, o seu pijama às bolas.

Ao observar o pai, a conversar ao telefone com amigos ou a trocar mensagens no telemóvel, receia que este gaste todas as palavras que existem. Temerosa com a situação, resolve questioná-lo: “O que é que acontece se ficares sem palavras? Vais ter alguma guardada para mim?”. O som da palavra “NUNCA” torna-se então enorme, abraçando o coração da menina e devolvendo-lhe tranquilidade, mas esta, continuando inquieta, quer ter a certeza de que o pai saberá o que fazer se tal acontecer. Nessa (improvável) situação, o pai diz-lhe que irá “à Fábrica de Palavras dos Duendes, que ficaria debaixo de terra, por baixo da floresta”, acrescentando ainda que irá comprar “uma garrafa com palavras infinitas. Assim, nunca mais fico sem palavras”.
A cada resposta do pai nasce uma nova pergunta da filha – e assim sucessivamente. A relação pergunta-resposta dá lugar a um diálogo poético, criativo, ternurento, bem-humorado, comprovando que não há nada que os possa separar. O pai assegura, caso seja necessário, que estará pronto para correr o mundo, enfrentando tudo e todos, sejam piratas, subir a árvores gigantes, atravessar florestas tenebrosas ou sobreviver a turbulentas viagens. O que importa é que conseguirá sempre descobrir um foguetão ultrassónico para regressar a casa, abraçando a sua menina e, ao seu ouvido, sussurrar palavras de afeição, fazendo com que o seu pequeno coração sinta uma tranquilidade inigualável.

“Pai, e se ficares sem palavras?” é um livro sobre a importância dos afectos e do tempo que passamos com os pais. Um elogio à palavra dita, ao diálogo e à escuta. Uma homenagem a todos os pais e à importância que desempenham na vida dos filhos. Um livro maravilhoso.
Felicita Sala nasceu em Roma, mas viveu até 2027 na Austrália, onde se formou em Filosofia. Quando regressou a Itália começou a aprender ilustração como autodidacta e, muito lentamente, a fazer livros ilustrados. O seu trabalho tem sido reconhecido pela crítica e os seus livros têm vindo a ser publicado em todo o mundo, como é o caso de “Sê uma Árvore!” (ed. Fábula). Vários livros seus receberam prémios e, em 2020, ganhou o Premio Andersen como melhor ilustradora de Itália.
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