Haruki Murakami, nascido em 1949, dedicou-se aos estudos teatrais numa universidade em Tóquio, mas decidiu abrir um bar de jazz do qual foi gerente durante 8 anos. Durante este tempo, o bicho da escrita nunca sucumbiu e “…todas as noites, quando chegava a casa, (…), sentava-me à mesa da cozinha e escrevia. (…) Ouve a Canção do Vento é um texto curto, mais próximo da novela do que do romance propriamente dito(…)”. Assim nasceu “Ouve a Canção do Vento / Flíper, 1973” (Casa das Letras, 2016), dois contos análogos que, apesar de terem sido os seus primeiros romances, só recentemente foram publicados por pressão dos leitores.
Ouve a Canção do Vento, o primeiro conto, é contado na primeira pessoa, mas nunca se chega a descobrir o nome do narrador. Há também Rato, uma personagem complexa, um rapaz rico que odeia ricos mas que, apesar de apresentado com pompa e circunstância, acaba por não ter nenhuma posição relevante na narrativa. Num bar, o protagonista conhece uma rapariga com 4 dedos na mão esquerda que trabalha numa loja de discos.
Em Flíper, 1973, o narrador sem nome e Rato regressam à história, com muito tabaco e cerveja à mistura, mas o ambiente da escrita é diferente daquilo a que Haruki Murakami já nos habituou. “Escrevi Fliper, 1973 no ano seguinte, como uma espécie de continuação de Ouve a Canção do Vento.”
A cultura e paisagem japonesas, assim como os bares de jazz, são recorrentes em grande parte dos escritos do autor. No entanto, os livros de Haruki Murakami partilham todos a mesma premissa: história sem acção significativa, um enredo que demora a desenvolver e que chega mesmo a despertar no leitor um dissabor sempre que se acaba um livro. No entanto, há algo na sua escrita que força o leitor a querer mais, tornando-se difícil desligar-se das suas obras.
Considerado um dos melhores escritores contemporâneos, sendo todos os anos apontado a vencer o Nobel da Literatura, Murakami apresenta os dois romances que iniciaram a sua vida no mundo da literatura. O seu receio em ter estas duas obras traduzidas para idiomas ocidentais não era infundado: apesar da escrita habitualmente fluída, a conexão dos acontecimentos ao longo da história é precária, o que torna os contos algo decepcionantes para quem tem seguido a sua obra.
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