Há dez(!) anos atrás, aterrava nas livrarias “O dia em que os lápis desistiram”. Escrito por Drew Daywalt e ilustrado – magnificamente – por Oliver Jeffers, chegava a parecer um livro de pantones para os mais pequenos, mostrando-lhes quais as cores que tinham ao dispor da sua imaginação para pintarem o mundo inteiro, deixando de lado algumas das convenções coloristas a que vinham sendo habituados.
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Dois anos depois foi a vez de “O dia em que os lápis voltaram a casa” que, à semelhança do volume anterior, consistia num festim no que tocava à arte da ilustração, com o recurso às mais variadas técnicas. O traço a lápis de cera ia do desenho à criação de letterings que serviam de alfabetos, aliando a ilustração à fotografia e, também, utilizando objectos reais – postais, afia-lápis, páginas de livros ou cadernos.
A fasquia era alta, e talvez tivesse sido melhor Drew Daywalt e Oliver Jeffers terem ficado por aí. A verdade é que vários outros volumes se sucederam, mas nenhum deles conseguiu – tanto ao nível do texto como da ilustração e do trabalho gráfico – estar à altura dos dois primeiros. O mesmo volta a acontecer com este “Os lápis regressam à escola” (Nuvem de Letras, 2024), que parece viver dos louros criados por esta dupla em anos melhores. Até mesmo no que toca à concepção gráfica o trabalho é pouco envolvente, fazendo-nos ter saudades dos tempos em que Jeffers nos tinha brindado com álbuns como “Este Alce é Meu” ou “Presos”.
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“O verão acabou e os lápis regressam à escola”, uns mais motivados (e acordados) do que outros. Do que dirão adeus antes do regresso? Como passaram a última noite antes de voltarem a abrir os manuais? Como estarão as amizades antigas? Haverá espaço para novas? As perguntas são muitas, nesta história apontada aos pequenos muito pequenos, longe da envolvência e da criatividade empregue nos dois extraordinários volumes que deram origem à série. Talvez seja altura de os lápis regressarem à caixa.
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