“Os Hóspedes” (Editorial Bizâncio, 2016) é o sexto romance da autora gaulesa Sarah Waters, cujo sucesso surgiu quase que do dia para noite graças à primeira obra intitulada de “The Tipping Velvet”, editado em português pela Bizâncio com o título “O Toque de Veludo”. Nessa sua primeira incursão pela escrita, Waters introduziu temáticas que se viriam a revelar transversais à sua obra: a sociedade vitoriana e a homossexualidade.
Em “Os Hóspedes”, Sarah Waters traz-nos uma história prometedora ao virar das primeiras páginas, mas que acaba por se revelar demasiado previsível. As personagens, inicialmente bem construídas e desenvolvidas, acabam por se manter unidimensionais, não estendendo tanto quanto seria de esperar as suas personalidades.
O peão principal, Frances Wray, de início uma mulher reservada, é dotado de uma personalidade vanguardista arrancada aos anos 20, batendo-se durante o decorrer da primeira guerra mundial pela luta contra a injustiça e a igualdade de direitos. Mais tarde, porém, Frances será obrigada a cuidar da mãe, uma mulher abatida pela guerra que lhe levou os filhos e, posteriormente e por acção do marido, ficará demasiado presa à tradição vitoriana.
A faceta inovadora de Frances, que tanto poderia enriquecer a própria ao longo da história através de referências ao contexto histórico-cultural da acção literária, é suprimida para dar lugar a uma obsessão amorosa: Lilian Barber, esposa de Leonard Barber, que juntos formam o casal de inquilinos que habita a casa Wray.
Por entre encontros casuais, resultantes das lides domésticas tipicamente associadas ao sexo feminino, Frances e Lilian acabam por desenvolver uma amizade que se adivinha promissora – os indícios de uma atracção sexual são, após este ponto, evidentes, assim como o rumo da história: Frances e Lilian iniciam uma paixão tórrida, repleta de encontros secretos um pouco por toda a casa, sempre receosas das consequências da sua paixão. E, se uma relação extraconjugal no começo do século XX já se anuncia como trágica, uma relação extraconjugal em que o alvo da luxúria é alguém do mesmo sexo só pode resultar num desenlace dramático.
A infidelidade rapidamente se torna o foco central da narrativa, intensificando-se a sensação de que Leonard, o terceiro elemento deste triângulo amoroso tumultuoso, se encontra ali a mais. A trama acaba por culminar numa tragédia expectável, e as reviravoltas, que poderiam enriquecer o enredo, surgem tarde e são pouco desenvolvidas. Quanto ao final feliz, mostra-se incapaz de se adequar ao tom taciturno que a trama havia tomado nos últimos capítulos.
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