Veronica Roth, célebre pela série Divergente, regressa em grande forma com “Os Escolhidos” (Saída de Emergência, 2020), um dos números mais recentes da Colecção Bang, que combina história alternativa, magia, artefactos míticos, vilões terríficos e mundos paralelos.
A acção decorre numa Terra em tudo semelhante à que conhecemos, excepto no facto de, há pouco mais de dez anos, ter sido visitada pel’O Tenebroso, um ser de aspecto humano que surgia de repente, no meio de um vórtice atmosférico, destruindo tudo à sua passagem e provocando mortes em massa, através de métodos telecinéticos que iam do simples esmagamento à evisceração. Para derrotá-lo, uma agência clandestina americana dedicada à investigação do sobrenatural reuniu, armou e treinou com êxito um grupo de cinco adolescentes detentores de talentos mágicos inatos, a quem chamaram Escolhidos.
Quando a narrativa começa, os adolescentes já cresceram, mas vivem presos ao passado. Como tantos soldados doutras guerras, é-lhes difícil integrarem-se numa sociedade que não entende aquilo por que passaram e não sabe lidar com os seus traumas. O mundo mudou, na medida em que a existência de magia foi aceite, mas a natureza humana persiste. O Tenebroso torna-se tema de piadas, enquanto Os Escolhidos são alvo da maledicência dos tablóides e do escrutínio das redes sociais. A sua própria identidade complica a obtenção de emprego e força-os a venderem uma parte das suas vidas para sobreviverem. Até a protagonista, Sloane, a mais rebelde do grupo, para quem a vida sempre foi complicada, é obrigada a fazer cedências, enquanto procura manter um mínimo de privacidade e usar o distanciamento como uma armadura. Neste contexto, não surpreende que todos eles se entreguem a uma ou a outra forma de dependência.
Tudo muda abruptamente após as comemorações do décimo aniversário da vitória contra O Tenebroso e a morte de um dos Escolhidos, quando três elementos do grupo são transportados para um universo paralelo, cujos líderes, conhecendo o seu êxito passado, desejam recrutá-los para combaterem o seu próprio monstro, ao qual chamam Ressuscitador, por dispor de um exército de cadáveres reanimados. Neste mundo, que graças à habilidade da autora parece tão realista como o anteriormente descrito, a magia passou a fazer parte do quotidiano décadas mais cedo, ao ponto de as pessoas terem deixado de saber lidar com os aspectos mecânicos da realidade.
O desenrolar da acção revela uma série de surpresas e personagens interessantes, cujas matizes evitam a sua categorização em estereótipos. A própria estrutura do livro é criativa e inteligente, possuindo uma narrativa principal, segundo o ponto de vista de Sloane, intercalada com diversa documentação fictícia, incluindo excertos de livros e de diários, artigos de imprensa e relatórios governamentais, que enriquecem a história e esclarecem alguns pormenores. O facto de a obra ser, ao que tudo indica, composta por um único volume, torna-a ideal para os apreciadores de ficção fantástica que não desejam comprometer-se com uma saga.
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