“Sinto-me uma fotocópia prefiro o original
Edição revista e aumentada cordão umbilical
Exclusivo a morder a página em papel jornal”
Ao contrário do que Rui Reininho cantava em “Valsa dos Detectives”, e ao pegarmos nesta nova edição de “Os Contos de Beedle o Bardo” (Editorial Presença, 2018), não daremos por nós a chorar pela versão original – ou sequer por fotocópias. Aliás, com o acrescento das notas do Professor Albus Dumbledore, torna-se impossível cortar o cordão umbilical que vai unindo os fãs de muitos anos à saga Harry Potter que, felizmente e graças à nova aventura cinéfila liderada por J.K. Rowling, intitulada “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” – já com dois filmes e dois guiões publicados -, promete não desaparecer do imaginário das novas gerações – e ainda bem, dizemos por aqui.
De acordo com o muito bem desenhado prefácio, esta é “…uma colecção de histórias escritas para jovens feiticeiros e feiticeiras”, que têm também ajudado os pais feiticeiros a explicar aos seus filhos que “a magia causa tantos problemas como aqueles que resolve“.
Afastando-se do habitual plot das histórias escritas para crianças e jovens muggles, as heroínas são aqui mais activas, controlando “o seu destino em vez de fazerem uma longa sesta ou esperarem que alguém lhes devolva um sapo perdido“.
Antes dos cinco breves contos somos apresentados a Beedle o Bardo, que viveu no século XV e cuja vida – ou grande parte dela – permanece envolta em mistério. Sabe-se que nasceu no Yorkshire e que tinha uma barba viçosa. Gostava de muggles e, como Albus Dumbledore, não confiava na magia negra. Dumbledore que, segundo a lenda, deixou em testamento os contos em questão, a que adicionou notas tão castiças como esta, referente ao último dos contos do livro: “É uma coisa linda e terrível e, portanto, deve ser tratada com a maior cautela” – a morte, diga-se.
“O Feiticeiro e o Caldeirão Saltitante” é um conto pró-Muggle, que nas entrelinhas fala na importância da entreajuda. Nele, um herdeiro de um feiticeiro simpático que se recusa a praticar magia para ajudar os outros, vê-se perseguido por um caldeirão saltitante, que vai acumulando e gritando cada uma das queixas não atendidas.
Em “A Fonte do Justo Merecimento”, três feiticeiros com o espírito do Panda do Kung Fu unem forças para chegar a uma fonte onde, “uma vez por ano, entre o nascer e o pôr-do-sol do dia mais longo, erad dada a um único infeliz a oportunidade de conseguir abrir caminho até à fonte, banhar-se nas suas águas e receber boa sorte para sempre”.
“O Feiticeiro do Coração Medonho” decide nunca se deixar dominar pela paixão, sentimento ou estado que considera uma fraqueza, conto que Dumbledore considera “a mais macabra das oferendas de Beedle”, que fala às mais negras profundezas que habitam cada um de nós – um conto que os pais vão escondendo dos filhos até o conseguirem.
“A Coelha Babita e a Árvore Tagarela” apresenta o leitor a um rei que queria ter a exclusividade dos poderes mágicos, e que para isso criou um exército de caçadores de bruxos, que andava com uma matilha de cães negros e ferozes. É aqui que temos o primeiro vislumbre dos Animagus, feiticeiros que têm a rara capacidade de se transformar em qualquer animal.
A fechar temos “O Conto dos Três Irmãos”, que ensina a enganar a morte depois de um primeiro susto – falando, ao mesmo tempo, de humildade (e da falta dela).
Tal como outros livros de Rowling, os direitos de autor serão doados à Lumos, que trabalha para o benefício de crianças que necessitam desesperadamente de ser ouvidas. Mais um livro imprescindível na biblioteca de qualquer Potteriano.
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