Trata-se do primeiro capítulo de “O Senhor Valéry”, livro escrito por Gonçalo M. Tavares em 2002 e que é parte d`O Bairro, um dos maiores empreendimentos literários made in Portugal, que chegou mesmo a servir de inspiração a um grupo de arquitectura da Universidade Lusíada em Lisboa, que projectou casas e um bairro para todos estes senhores, personagens maiores do universo literário do escritor português.
Na edição original, o livro tinha desenhos a preto e branco onde reinava a contenção, assinados por Rachel Caiano, que serviam que nem uma carapaça ao ideal filosófico professado por Gonçalo ao longo de uma carreira quase sem espinhas.
Agora, numa (re)edição de formato quadrado e com nova capa apontada aos mais novos – originalmente publicada pela editora Caminho em 2007 -, Caiano aumenta a escala e utiliza a cor até mais não, mantendo a fidelidade à história e desenhando, como poucos o fazem, aquele que é um dos seus grandes atributos: o rosto humano. Nem é preciso dizer que o Sr. Valéry está um mimo.
E que história é esta, então, contada neste “Os Amigos” (Relógio D`Água, 2019)? A do senhor Valéry, que era pequenino mas dava muitos saltos, achando que dessa forma seria igual às outras pessoas – só que por pouco tempo.
O leitor vai acompanhando de perto as sucessivas tentativas de Valéry para aumentar de tamanho, que envolvem o uso de bancos, suspensões temporárias da gravidade ou exercícios mentais onde o pensamento é levado aos limites do absurdo, num livro que é um elogio à imaginação na sua forma mais superior. Um pequeno e ilustrado passo para que a criançada descubra o fantástico universo literário criado por Gonçalo M. Tavares.
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