Sophie Kinsella, até agora direccionada para um público mais adulto, focou as suas atenções nos mais jovens para escrever o seu primeiro livro young-adult: ‘’Onde estás, Audrey?’’ (Porto Editora, 2016).
Como primeira protagonista adolescente, Kinsella apresenta Audrey, uma rapariga traumatizada, numa família caoticamente funcional. Apesar de todo o livro parecer girar à volta desta adolescente com problemas de socialização, a autora escrutina a toda a família: Frank, o irmão mais velho, viciado em jogos de vídeo; Anne, a mãe lunática, que todas as semanas aparece com uma mania nova; Chris, o pai, que é pouco descrito: e Félix, o irmão mais novo, cujo passatempo preferido é aprender novas palavras e repetir as que ouve.
Pode-se dizer que cada personagem tem uma mensagem inerente, sendo as mais importantes o irmão mais velho, a mãe e a Audrey. Frank, viciado em videojogos, passa horas a treinar para um torneio cujo prémio acumulado é de 6 milhões de dólares, expondo dois tópicos de ponderação: as horas a fio passadas à frente de um computador, um verdadeiro flagelo das gerações mais novas e, articulado, a falta de acompanhamento parental em relação a estes jogos cujo teor é muitas vezes violento. Anne, que acredita em tudo o que lê no Daily Mail, é um bom exemplo do risco que apresenta a leitura de matérias sem qualquer poder crítico acerca do que lê. Quanto a Aundrey, que se supõe que tenha sido vítima de bullying – embora esta parte nunca seja esclarecida -, é acompanhada por uma psiquiatra de modo a superar a depressão e resolver os problemas de socialização que resultaram da humilhação sofrida na escola.
O bullying é um crime comum cometido em todo o lado, transversal a fronteiras e culturas, que avassala todas as faixas etárias. Com este livro, a autora obriga a fazer um exercício mental de reflexão no que diz respeito às relações interpessoais, particularmente nas gerações mais novas. As suas consequências são variadas e têm impacto diferente de vítima para vítima, podendo ir desde um baixar de auto-estima a um extremo de agressões violentas ou suicídio.
Para um livro que é direccionado para as camadas mais novas, a narrativa é leve e até mesmo cómica em alguns momentos, aliviando a tensão e o peso dos temas abordados. Nota especial para o verso da jacket do livro, que mostra um cartaz de motivação com o propósito de ajudar a auto-valorização de cada um.
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