“Por fim podia ler tudo o que sempre quisera ler: literatura clássica e moderna, romances e poesia, livros sobre história das mulheres, dos cegos e dos surdos-mudos, do Império Alemão e da República de Weimar; além disso, partituras com a música que ela tocara no órgão ou que gostaria de ter tocado.”
A importância da leitura, do conhecimento e o tímido elogio à filosofia estão presentes no magnífico romance “Olga” (Asa, 2019), assinado por Bernhard Schlink. Ler para fugir, para esquecer o seu amor – o de Olga – por Herbert. O amor de uma vida. Um amor impossível.
Ainda adolescentes, na orla do bosque, entre os livros e o estudo, Olga e Herbert apaixonaram-se. O amor acalentou as suas vidas, mas os desencontros foram muitos. O facto de Herbert ser oriundo de uma família abastada, bem diferente das origens humildes de Olga, não ajudou à consolidação do amor.
Herbert, de espirito aventureiro, decide partir primeiro para África, e depois para uma expedição no Pólo Norte, da qual não regressará. A atracção pela aventura, pelo desconhecido, pelo nada. Olga fica. O amor permanece.
Os dias, os meses e os anos passam. É na escrita que Olga minimiza a ausência de Herbert. A sua companhia subsiste nas longas conversas, nas cartas escritas com regularidade. Durante anos, muitas cartas são escritas. Numa narrativa intimista, ficamos a conhecer o amor, as rotinas, sonhos e desejos de Olga – a sua vida: “Gostava de fazer tanta coisa contigo. Dançar, andar de petins no gelo, andar de trenó, apanhar cogumelos, procurar mirtilos, ler para ti e ouvir-te ler para mim, adormecer e acordar junto de ti”.
Bernhard Schlink retrata com sensibilidade a alma feminina, entrelaçando sentimentos, vivências, emoções e segredos. A tristeza do que deveria ter sido e não foi, a dor de “ter conseguido viver o amor de modo mais ou menos satisfatório”, a misericórdia das perdas – “não faço luto pelo Herbert, vivo com ele” -, a paixão pela leitura e o intelectual, a coragem, fazem de Olga uma mulher inesquecível.
Em “Olga”, a vida da protagonista cruza-se com acontecimentos da história da Alemanha, como as acções de Bismark e a Segunda Guerra Mundial. Enquanto primeiro-ministro do reino da Prússia, Bismarck unificou a Alemanha, depois de uma série de guerras – as quais, segundo Olga, marcam as (des)venturas do seu amado Herbert.
Acompanhamos a vida de Olga, o seu amor, em perspectivas distintas: por um narrador, pela voz de Olga e, por último, pela partilha das cartas com o leitor. Numa escrita clara, simples sem ser simplista, bela e elegante, Bernhard Schlink conta-nos uma história de amor comovente.
Bernhard Schlink ficou internacionalmente conhecido com o livro “O Leitor”, traduzido em trinta e nove idiomas e adaptado ao cinema. Nasceu no ano de 1944, na Alemanha. É jurista, escritor, professor de Direito e Filosofia na Universidade Humboldt, em Berlim. Actualmente, divide o seu tempo entre Berlim e Nova Iorque.
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