“Felicidade é continuar a querer aquilo que já temos!”
Esta não é a receita infalível da felicidade. É apenas a que mais nos fez sentido, já que existem mais de sete mil milhões de receitas para cozinhar a felicidade. Claro que comer um bom croissant, de preferência um desses sorridentes, pode ajudar qualquer um de nós a ser mais feliz (e gordinho).
Pierre Padeiro tem a arrogância dos ricos e uma vida cronometrada ao milésimo de segundo no seu Rolex de edição limitada, mas parece ter esquecido o efeito contagiante dos seus croissants, e por isso dá por si frequentemente a meter a mão na massa.
“Só para me lembrar, para respirar o ar doce dos fornos, o odor da manteiga derretida, para ouvir o estalar da massa folhada e poder sonhar um pouco. Esquecer durante alguns minutos o cheiro do dinheiro. Substituir durante alguns minutos o aroma das notas pelo dos croissants.”
Enquanto persegue o sentido oculto da vida, entre croissants felizes ultracongelados e teorias estaladiças, Pierre esconde (pouco) o feitio retorcido, expectável de quem ergueu um império com pouco mais do que farinha, ovos, manteiga, água e sal e, claro, o forno na temperatura certa. No entanto, mesmo sabedor da receita e com todos os ingredientes à mão – uma infância feliz, afecto, sonhos, família, dinheiro, segurança -, tem-se esquecido de uma coisa: sorrir.
Para um homem que foi concebido aos saltos, a alegria e o movimento têm de fazer parte da sua vida, mesmo depois de ultrapassada a meia-idade e a meta do sucesso internacional. O problema é que está confuso, acertando pouco nas doses certas de cada ingrediente.
“Já me tinha esquecido de que me tornará pasteleiro porque queria fazer as pessoas felizes com os meus bolos, tal como o meu pai e o meu avô me faziam feliz quando me preparavam aquelas maravilhosas madalenas caseiras que balsamavam todas as divisões (…) Parei de sonhar com croissants no dia em que comecei a vendê-los. E deixei de sorrir quando os croissants começaram a fazê-lo no meu lugar (…) Efectivamente, quando se vive para trabalhar, acabamos por nos esquecer de nós próprios.”
Talvez não se esqueça na totalidade, mas quando tudo (ou assim parece) se pode comprar, perde-se a capacidade de apreciar cada coisa. Por isso, contrariando ser mais do que uma abelha atarefada, Pierre arrisca uma refeição de rua, de salsichas e café, discutindo negócios e a vida, entre grelhas de sudoku, ketchup intimidante e as ideias de um velho meio louco, que reúne toda a sua sabedoria num único dente.
Abrandando então o programa de centrifugação em que vive, Pierre volta a deixar-se contagiar pela felicidade mais básica, coisas simples que todos parecemos esquecer – e que, talvez por isso, leve a que se continuem a cozinhar livros como “O Sorriso Contagiante dos Croissants” (Guerra & Paz, 2022), de Camille Andrea, que com humor e tontice à mistura nos recorda que a felicidade está nos gestos simples. Como apreciar um bom croissant.
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