“A Menina e Jasmim viviam numa ilha.Vista de cima, do céu, a ilha era um ponto minúsculo no meio do oceano. Vista de baixo, do fundo do mar, era apenas o pequeno cume de uma grande montanha submersa. E, num mapa estendido sobre a mesa, a ilha só aparecia com a ajuda de uma lupa de lente muito grossa.”
Esta ilha, apresentada por esta Menina, nunca está no mesmo sítio. Desaparece dos radares, move-se e, por isso, ninguém sabe ao certo onde se localiza. Apenas se sabe que nela habita a Menina e sua cadela Jasmim.
Será a ilha do tamanho de um ponto minúsculo? Os ilhéus não concordam. Talvez dependa da perspectiva do olhar. Olhamos de cima? De baixo? Ou de um outro ponto? Avançamos sem certezas do tamanho, mas convictos acerca do que avistamos: muita beleza. A beleza das montanhas e dos vulcões, que nos embala ao som “das ondas a baterem nas rochas” e nos orienta na descoberta do mistério dos cheiros trazidos pelos ventos. Esta é uma ilha peculiar, única. Nenhuma ilha é igual a outra ilha.
Um dia a Menina e Jasmim despediram-se da ilha. “Voltariam?”, perguntou Jasmim, ao que a Menina respondeu: “Quando saímos da ilha, é difícil voltar. Não se encontra o caminho de regresso. Pelo menos, é o que dizem: que esta ilha nunca está no mesmo sítio. É como se fosse um barco e andasse de um lado para o outro sem nós darmos por isso”. Que razões terá a Menina para querer sair da ilha? Porque sairá da ilha de barco, onde não cabe tudo, e não de avião? Que levariam no barco? Apenas poderiam levar coisas leves, apesar de algumas delas ocuparem muito espaço.
“O Som das Coisas Leves Quando Caem” (Nuvem de Letras, 2022) é um livro vulcânico, de uma poesia ardente e de uma imaginação abrasadora. É uma narrativa de viagens onde abundam desafios e surpresas, onde se conhecem peixes, polvos, lulas, monstros arcaicos, mas também onde os barcos pequenos se cruzam com barcos gigantes, como se fossem cidades flutuantes ou, simplesmente, onde se viaja com a coragem “presa a um fio, do lado de fora do barco”. Um livro inspirador.
As ilustrações de Sérgio Condeço, ora em página simples ora em página dupla, em tons predominantemente de verde e azul, numa graciosa cumplicidade com texto, permitem ao leitor viajar até à ilha e imaginar Clarinha, a árvore mais pequena da floresta, ou as vacas sonolentas e de grande serenidade.
Catarina Ferreira de Almeida nasceu em Lisboa e passou a infância perto do Castelo de São Jorge, onde quase todos os dias acordava com o canto dos pavões. Estudou Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e concluiu o mestrado em França, na Universidade de Rennes 2, depois de passar muitas horas a ler nos cafés e nas bibliotecas de Paris.
Sérgio Condeço estudou Design Têxtil no Porto, mas nunca sentiu gostar de nada para além de desenhar e imaginar a vida com fantasia e muitas cores. Por isso, decidiu dedicar-se à ilustração. Cada livro ilustrado é uma descoberta, um desafio onde o medo chega primeiro do que a determinação. Todos os dias quando chega ao ateliê na sua vespa cor de laranja, abre a porta e pensa que nunca irá crescer verdadeiramente.
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