O vazio é avassalador. A perda é triste. A morte é assustadora e provadora de um turbilhão de sentimentos. Há perguntas para as quais dificilmente encontramos respostas. Perdas irreparáveis. “O Rapaz e o Gorila” (Orfeu Negro, 2022) é a história de uma criança que perde a sua mãe e se sente completamente só e sem rumo.
Revisitar os lugares preferidos da mãe, assim como as conversas e perguntas colocadas ao amigo imaginário – o Gorila -, ajudam a superar a descomunal ausência. “Para onde é que foi a Mamã? A minha mamã não pode voltar para casa? Acabamos todos por morrer? Como é que sabemos que uma pessoa morreu? Porque é que ela teve de morrer? Quando é que vou sentir-me melhor?”. O amigo Gorila vai respondendo às questões, de forma simples e honesta e, num diálogo tranquilo e afectuoso, o pequeno rapaz vai-se reconciliando com a perda e aproximando-se do pai, nem sempre presente. O alheamento dá lugar à partilha e ao aconchego. Juntos, pai e filho, fazendo o luto, recordam bons momentos vividos em família e esboçam um futuro mais esperançoso.
As aguarelas encantatórias e hipnotizantes de Cindy Derby aproximam o leitor desta história terna. As cores oscilam entre os tons pálidos e sombrios e os verdes, símbolo de esperança. As primeiras guardas, em tons cinza, avizinham uma melancolia, enquanto as guardas finais, em tons de laranja e amarelos ténues, bem como o vôo de um pequeno pássaro, apontam para o apaziguamento.
Um livro delicado sobre a morte e a importância de fazer o luto. Um livro perguntador e reflexivo, com perguntas que aclaram as ideias e auxiliam na superação da dor. Um livro belíssimo.
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