Estamos habituados a que bons livros sejam adaptados ao cinema, não sendo tão comum o contrário. “O Quiosque” (Orfeu Negro, 2022) é um excelente livro, que começou por ser um filme de animação – The Kiosk -, que recebeu o Prémio de Melhor Filme de Animação do Festival de Cinema da Suíça. Quando “O Quiosque” passou da tela para o papel, continuou a ser evidente a sua qualidade, tendo sido galardoado com os Prémios Peter Pan e Orbil de melhor álbum ilustrado em 2020 – entrando também na lista de honra IBBY 2020.
“Olga trabalha no quiosque há muito, muito tempo. O quiosque é a sua vida. Todos os dias, sorridente, diz olá aos clientes habituais e sabe de cor o que querem”. Durante o dia, Olga irradia amabilidade e simpatia para todos, mesmo com aqueles que só vêm para conversar. À noite, melancólica, sonha com viagens pelas mais belas praias ao pôr do sol. Um dia, uma sequência de acontecimentos inesperados, ocorrida em poucos minutos, fará o seu mundo ficar de pernas para o ar. Será que Olga conseguirá realizar os seus sonhos? E quão grande é o poder dos nossos sonhos?
As ilustrações, de cores fortes, trazem à narrativa a alegria, e dão visibilidade ao ritmo do dia-a-dia. O traço, por vezes grotesco, nunca denuncia o tamanho da protagonista ou irradia qualquer tipo de observações moralistas.
A cidade vive agitada. O leitor circula dentro das ilustrações, como se estivesse a passear pelas ruas, girando em torno do quiosque ou, simplesmente, deixando-se flutuar, à deriva, nas águas do rio. A imagem sustenta a narrativa, possibilitando um elegante diálogo entre o discurso verbal e visual.
“O Quiosque”, de Anete Melece, começa na capa, onde conhecemos Olga, a sonhadora. As guardas, iniciais e finais, marcam o início e o fim da narrativa. Um álbum completamente inesperado, divertido, bem-humorado e inspirador. Um excelente livro para ler e dar a ler.
Sem Comentários