“Durante milhares de anos, o pântano fora considerado um local possuído por forças maléficas e difícil de definir e categorizar. Uma terra de ninguém encharcada e inútil, fora do controlo dos humanos. Governada por poderes ocultos que seduziam os incautos que para lhes roubar aquilo de que precisavam e dar-lhes o que desejavam.”
Uma atmosfera mística e enigmática, com um toque q.b. de drama e investigação policial, caracterizam “O Pântano dos Sacrifícios” (Topseller, 2018), livro de estreia da sueca Susanne Jansson. Aqui, a autora encontra terreno fértil para explorar superstições e mitologia, carimbando o seu nome na literatura policial nórdica.
Nathalie Nordström é a personagem principal, uma jovem bióloga que vive atraída pelo inexplicável e se desloca até a um pântano no norte da Suécia, para realizar uma experiência de campo no âmbito da sua tese de doutoramento, na área da investigação climática. Instalada numa cabana ali perto, imersa em tranquilidade, depara-se com um “pântano especial”, que conhece bem – é que Nathalie cresceu naquela zona, mas partiu quando uma tragédia se abateu sobre a sua família.
O regresso ao local vai fazê-la reviver situações que julgava ter já resolvidas na sua cabeça. Cedo percebemos que, quanto mais tenta repelir o passado, mais forte este se lhe apresenta. Nathalie sabe que os pântanos estiveram, ao longo dos tempos, “envoltos num ambiente enigmático e místico, que os tornava um local adequado a ritos e à comunicação com o mundo dos espíritos”, mas estava longe de antever onde a sua investigação a levaria.
Numa noite de tempestade, um mau pressentimento leva-a até ao pântano, onde encontra um homem que conheceu recentemente inconsciente, prestes a afundar-se. A polícia começa a investigar o caso e encontra cadáveres ali enterrados, todos com lesões semelhantes na cabeça, presos por uma estaca e com imensas moedas suecas nos bolsos. A ideia de sacrifícios e oferendas humanas aos deuses, para trazer prosperidade e afastar o azar e o mau-olhado, volta a crescer no seio daquela comunidade. Estarão os pântanos a exigir mais sacrifícios? Terá a ciência resposta para tudo?
Com uma escrita simples e fluída, bem estruturada, que intercala diferentes perspectivas da história em capítulos curtos, Susanne Jansson consegue envolver-nos na narrativa, não só pela investigação policial mas, sobretudo, pelos fantasmas que perduram na localidade e a infância traumática da protagonista.
Maya, uma fotógrafa artística e também fotógrafa forense em part-time, vai assumir um papel preponderante no desenrolar da trama, levando-nos a conhecer alguns dos mais carismáticos habitantes locais que fizeram parte do passado de Nathalie. No final, não restam pontas soltas.
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“O Pântano dos Sacrifícios” é um livro de ficção que bebe inspiração em factos reais, o que adensa a vontade do leitor em ver desvendado o mistério. Foi altamente disputado na Feira do Livro de Londres de 2017 e vendido para 26 países.
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