É mais um capítulo na desenfreada publicação da obra de David Walliams, que tem chegado às livrarias portuguesas ao ritmo com que os carros vão saindo das linhas de montagem da Auto Europa.
Em “O Monstro que Veio do Gelo” (Porto Editora, 2019) viajamos até à Londres de 1899, em plena época vitoriana. É lá que vive Elsie, uma órfã que vive nas ruas e que, a certa altura, ouve falar do Monstro do Gelo, um mamute lanudo com 10000 anos que foi encontrado e capturado no Pólo Norte, perfeitamente preservado no gelo, e que vai agora fazer parte da colecção do Museu de História Natural. Sentindo uma espécie de orfandade partilhada com o Monstro, Elsa embarca numa missão de vida, com o fim de ajudar o mamute a regressar a casa. Uma missão que contará com a preciosa ajuda do Gangue dos Dedos Peganhentos – nome que vem do facto de os seus dedos pequeninos conseguirem entrar nas casacas de donas e cavalheiros ricos e saírem de lá com coisas pegadas.
Este será, de todos os livros de Walliams, aquele que mostra uma costela mais Dickensiana. Basta olhar para o lar onde Elsa cresceu, que envolve crianças que ficavam trancadas, passavam fome, levavam pancada e eram obrigadas a trabalhar. E que comiam baratas ao pequeno-almoço, uma vez que a Sra. Pistola, a manda-chuva lá do sítio, tratava de confiscar tudo o que fosse bom para o estômago para consumo próprio.
Metendo perseguições feitas num balão de ar quente, cortinas de fumo ou técnicas navais, David Walliams mantém a tradição de juntar à protagonista uma série de personagens delirantes, como a Sra. Pistola, a velha malvada que dirige o Solar Vermelho, lar para crianças indesejadas; Totinha, a senhora da limpeza do Museu de História Natural, esperta como uma esfregona; Thomas, o namorado da Totinha, o soldado mais baixo que alguma vez serviu no Exército Britânico; a Dama Carabina, aristocrata adepta da caça grossa, responsável pela vinda do Mamute para Londres; e, claro, Raj, o Primeiro, dono de um império de guloseimas e personagem habitual em todos os livros de Walliams.
O final desta história, que mostra que os heróis não se medem aos palmos – ou pelo cheiro -, guarda ainda um posfácio onde se poderá aprender mais sobre mamutes lanudos, bem como mergulhar no verdadeiro espírito vitoriano.
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