Há pessoas que, recorrendo ao exemplo do copo, arranjam sempre forma de o ver como estando meio vazio, incapazes de sorver tranquila e curtidamente o líquido que resta. Este parece ser o caso do Quimpanzé, que de tão rezingão e queixoso mais valia assinar o cartão de cidadão como “O Macaco Rabugento” (Nuvem de Letras, 2020).
Certo dia, o Quimpanzé acorda e dá por si a pensar que nada tem na vida que o anime: ”O sol estava demasiado brilhante, o céu estava demasiado azul e as bananas estavam demasiado doces”. Porém, sempre que qualquer companheiro de selva se queixava da sua rabugice, Quimpanzé jurava a patas juntas que não estava nada rabugento, apesar do cerro ficar cada vez mais carregado, a postura acentuar a curvatura e s sobrancelhas tenderem a ficar franzidas e enrugadas. Cada um vai vai tratando de sugerir uma forma de Quimpanzé poder aproveitar à grande o dia bom que se instalou, mas a verdade é que este Quim não parece ter vontade de grandes festejos.
Suzzane Lang mostra-nos que nem todos os dias obrigam à felicidade, e que não há nada como uma boa rabugice para nos devolver ao caminho, dando tempo às emoções para se rebelarem – e, se a coisa correr bem, para recuperar o juízo, deixando assentar primeiro o silêncio.
As ilustrações de Max Lang estão carregadas de expressividade e boa disposição, instalando um zoo na casa de cada leitor que irá rir com vontade deste macaco que, um certo dia, acordou com a cauda de fora.
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