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O Livro dos Prazeres Inúteis, Dan Kieran, Tom Hodgkinson, Deus Me Livro, Crítica, Quetzal
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“O Livro dos Prazeres Inúteis” | Dan Kieran e Tom Hodgkinson

Por Cris Rodrigues · Em 07/02/2022

Inúteis ou não, a questão fulcral é: que prazer, vitalidade, gozo e felicidade lhe dá fazer uma mão cheia de coisas (supostamente) inúteis? Se só a sugestão lhe deixa um sorriso no rosto, é porque tem ideia de meia dúzia dessas coisas que, a troco de nada, lhe dão prazer. Passe então à acção e siga esta espécie de guia intitulado “O Livro dos Prazeres Inúteis” (Quetzal, 2022), habilmente composto por Dan Kieran e Tom Hodgkinson, agora reeditado em capa dura – e, caso não lhe sirva para mais nada, ao menos embeleza-lhe a estante ou será firme para usar como degrau ou para algum tipo de exercício ou prática yoga.

Esta nova edição tem, também, um tamanho adequado ao bolso de qualquer casaco confortável, permitindo que os três – livro, casaco e flâneur – deambulem languidamente pela cidade, piscando o olho a outros leitores que se espraiem em bancos de jardim. Flanando ou não, o importante é usufruir da leitura. Sugerimos que aconteça numa prática varanda, rodeado das suas plantas, ou apenas à sombra da roupa que seca na corda, que você sacudiu com um bom safanão, energizando-se mais a si do que a cada peça amarrotada, e que a seguir estendeu por cores compondo um belo estendalinho. A seguir abra a velha cadeira de lona, já moldada pelo seu corpo – mas que só usa na praia -, ou então estique a rede que trouxe daquela viagem exótica e fique simplesmente a ler e a relaxar. Estique de vez em quando a mão e dê uns amassinhos bons no cão ou no gato que, melhor do que qualquer um de nós, sabe tirar partido de uma sesta e desta arte de usufruir dos pequenos prazeres – aprenda com eles! Mas calma! Não pense que o livro o vai mandar saçaricar-se nas relvas frescas do parque, impregnando-se de cheiros alheios – mas, se for essa a sua vontade, força. O importante é que usufrua. Entretanto, fique já com algumas sugestões.

Apertar o pão
“Há poucas maneiras mais indicadas para mostrar o seu apreço pelo simples pão do que apertando-o bem. Essa sensação inconfundível por baixo dos seus dedos (…). E, no entanto, cada pão é diferente. O corredor dos pães no supermercado como que canta quando passa por ele, com filas de sereias feculentas desejosas da sua atenção. São apenas tretas de plástico, mas podem ser apertados na mesma.”

Se é adepto das apertadelas e do som característico de cada tipo de pão, alegre-se, pois há um Festival para dar largas às apertadelas. Pesquise, e não se esqueça de ter o roupão vestido, essa farda dos pensadores.

O Roupão

“Não há uniforme mais apropriado para a preguiça do que o roupão. (…) O roupão acompanha o estado de não fazer nada, mas o que é que está verdadeiramente a fazer quando não está a fazer nada? A pensar, é isso que está a fazer. A sociedade tem medo de pessoas com tempo para pensar. Sabe-se que são as pessoas desse género que costumam mudar as coisas. É por isso que o roupão é o verdadeiro uniforme da revolução.”

Como vê, “O Livro dos Prazeres Inúteis” é também um bom companheiro de mesinha de cabeceira, não vá acordar menos motivado e precisar de ideias para não ir picar o ponto. Se assim for basta abrir ao calhas, de certeza que irá arranjar programa e, talvez, nem tenha dificuldade em convencer alguém perto de si.

Este compêndio pretende ainda demonstrar que a beleza dos dias reside nas pequenas coisas, que sabemos existir mas que não aproveitamos. Como, por exemplo, tentar apanhar folhas enquanto elas dançam ao sabor do vento, brindando assim à chegada do Outono. Ideia atrás de ideia, este livro pretende afirmar que esses pequenos (ou grandes) prazeres não precisam de ser dispendiosos, como é mote da cultura consumista.

O Livro dos Prazeres Inúteis, Dan Kieran, Tom Hodgkinson, Deus Me Livro, Crítica, QuetzalPor isso, para lhe facilitar o caminho, propomos: desligue o despertador. Quando acordar, não se preocupe com as horas. Se tiver companhia, aproveite-a da melhor maneira (entendeu bem: sexo matinal despretensioso e de remelas no canto do olho). Vista qualquer coisa e, se o clima pedir, ponha o roupão por cima, calce as sandálias abertas – mostrando orgulhosamente a peúga galhofeira – e saia para a rua sem qualquer plano. Pare para observar as árvores, tente conhecer-lhes os nomes. Se encontrar o carteiro, troque dois dedos de conversa ou apenas sorrisos com qualquer desconhecido. Se passar por uma biblioteca entre, nem que seja para cheirar os livros. Se for uma igreja, entre também e contemple o silêncio. Se existirem lojas, entre e fique “só a ver!”.

As opções são inúmeras, umas mais citadinas, outras de contacto com a natureza. Outras poderão mesmo não estar ao seu alcance mas, se tiver o hábito de ler e de andar de bicicleta, então já estará no caminho certo.

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Cris Rodrigues

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