Uma viagem física, temporal e espiritual. É o que oferece “O Leopardo-das-Neves” (Desassossego, 2022), através da escrita de Peter Matthiessen, a todos aqueles que se aventurarem na sua obra. O livro acompanha uma viagem feita por Matthiessen, em 1973, após ter sido convidado por George Schaller até às inóspitas e, em larga medida, desconhecidas montanhas do Nepal. O objectivo era o estudo do Carneiro-azul e a tentativa de observar o raro, mítico e lendário Leopardo-das-Neves, mas o que Matthiessen absorve vai muito para além disso, misturando a realidade vivenciada na expedição com a visão budista.
Ao longo de 400 páginas, acompanhamos a convivência com comunidades bastante longínquas do “mundo real”, perdidas entre o labirinto de montes e vales em direcção às neves dos Himalaias, por vezes ao longo de trilhos de cortar a respiração com pouco mais de meio metro de largura, encontrando pelo caminho diferentes espécies animais – como o faisão, o almiscarado, o bharal, o langur, o iaque, o lobo ou o dzo.
Para o autor esta viagem teve um significado ainda maior, tendo em conta que a esposa havia morrido de cancro pouco tempo antes. Como escreve Peter Matthiessen, “confiar na vida terá, em última análise, de significar fazer as pazes com a morte“.
Escrito em género de diário, este é um livro vivaz, que nos faz avançar numa aventura ao mesmo tempo que recuamos no tempo, entre montanhas nevadas, trilhos estreitos e ventosos sobre precipícios ou um lago turquesa “que nunca conheceu remo ou vale“, embrenhando-nos em terras longínquas e inóspitas, à margem da dita civilização, à parte das preocupações ambientais de Matthiessen – e, claro, da sua profunda viagem emocional e espiritual, à qual todos convida a conhecer através de uma escrita simples e apelativa.
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