Foi, na última edição do Folio, um dos pontos mais altos: a exposição intitulada “O Lagarto”, que reunia as xilogravuras do artista popular brasileiro J. Borges às palavras de José Saramago, que resultaram no livro “O Lagarto” (Porto Editora, 2016), uma história de fadas onde estas não aparecem, antes um “lagarto que surgiu no Chiado. (…) Grande e verde, um sardão imponente, com uns olhos que pareciam de cristal negro, o corpo flexuoso coberto de escamas, o rabo longo e ágil, as patas rápidas“.
Na rua, todos o olhavam de longe e disfarçavam, como se aquela visão não passasse de um produto da sua imaginação urbana. Até que, do nada, uma velha começou aos gritos, pondo uma cidade inteira contra o lagarto. Ele que, como um Houdini coberto de escamas, acabou por expor a profunda ferida aberta na cidade (e no coração dos homens). Uma história servida como um enigma e que é, toda ela, um reflexo da escrita poética, crítica e misteriosa de José Saramago.
O resultado da aplicação das xilogravuras ao papel é surpreendente, com ilustrações cheias de rasgos, texturas e cores que parecem ter saído da cabeça – e da imaginação – de uma criança inquieta.
“Calados, muitos recordam,
Na prosa das suas casa,
O lagarto que era rosa,
Aquela rosa com asas.”
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