A vida não está fácil para George Walden. Um homem que se diz incapaz de ter ideias criativas, rasgos de criação ou qualquer capacidade para resolver problemas – ou inventar boas mentiras. Como recurso para esta falta de charme criativo, descobriu um método infalível: “Roubo ideias que semeio para que mais ideias brotem dessas árvores”. Um poder que lhe foi conferido num acto de desespero, quando fez um pacto com o diabo, que acabou por transformar George num vendilhão algo depressivo.
Com argumento de André F. Morgado e arte de Rudolfo Oliveira, “O Infeliz Pacto de George Walden” (A Seita/ Bicho Carpinteiro, 2022) segue os passos deste triste vendilhão, a quem o diabo trocou as voltas deixando-o como responsável por uma loja de ideias, cujas vendas influenciam o seu tempo de vida. O esquema, que poderia ser de pirâmide mas não o é, reza mais ou menos assim: as pessoas vêm à loja; compram e cheiram a ideia; o Diabo aparece e apresenta o pacto. Se as pessoas não cederem, o Diabo apaga o pacto das suas memórias, sendo George acusado de mentiroso e charlatão; caso aceitem o pacto, cada ideia torna-se uma história, e por cada um deles George recebe mais tempo de vida em função do tipo de ideia desejada (quanto mais vulgar, menos rentável).
Certo dia, o Diabo, qual galifão, apresenta um desafio a George que, se bem resolvido, o livrará para sempre do pacto assinado: descobrir o número que está em falta numa sucessão de cartazes, colados nas paredes da cidade. É mais ou menos por esta altura que entra em cena Penélope, por quem o pouco eloquente George ficará perdido de amores – e com quem irá testar, na sombra de Alan Poe, todo o jogo de cintura do Diabo.
Com ilustrações imersas no espírito franco-belga, esta história de (des)amor oferece ainda, à boa maneira de quem apenas abandona a sala de cinema depois dos créditos finais, um extra bem catita, onde os próprios autores acabam por dar um ar da sua graça. Há também uma galeria final com desenhos de autores convidados, com nomes como os de Joana Afonso ou Kachisou, que dão vontade de recortar com carinho e mandar emoldurar.
Sem Comentários