Escreveu sobretudo poesia, mas foi com “Homem de Ferro” (Ponto de Fuga, 2018), livro apontado à infância, que Ted Hughes acabou por inscrever o seu nome na história – ainda que pela porta do cinema, através da adaptação ao grande ecrã por Brad Bird que o rebaptizou como “O Gigante de Ferro”.
Tudo começa com uma chegada ao solo carregada de enigmas e perguntas por responder, e de um trambolhão gigante que parece conduzir a um irreparável desmantelamento. Hogarth, filho de um agricultor, descreve desta forma o fenómeno que acordou toda a cidade: “Uma figura enorme e negra, mais alta do que uma casa, negra e erguida no crepúsculo, com faróis verdes no lugar de olhos“.
Não passarão muitos dias até os agricultores se deixarem dominar pela fúria, quando de repente desaparecem os tractores, as escavadoras, os arados e os ancinhos. As pistas são muitas e não enganam: marcas de dentes gigantes e pegadas do tamanho de uma cama. Não podendo chamar a polícia, uma vez que ninguém iria acreditar tratar-se de um “monstro de ferro“, decidem cavar um buraco da altura de três árvores, disfarçado com ramos, palha e terra, com o isco a chegar na forma de um camião velho e ferrugento. Porém, quando ao fim de alguns dias a armadilha permanece intacta, já poucos acreditam que existe de facto um homem de ferro, e já se fala mesmo em tirar o camião e fechar o buraco. Até que Hogarth, armado de uma coragem tremenda, consegue conduzir o gigante à armadilha.
Há, porém, um outro e muito maior perigo à solta: um “imenso morcego-anjo sem nome“, ou “dragão-morcego-anjo-espacial” nas palavras de outros, com cada olho do tamanho da Suíça, que tem um apetite voraz por coisas vivas e que chegou à Terra vindo “dos confins do espaço, do coração de uma estrela“. Quando tudo parece falhar, percebem que a solução poderá estar no buraco que cavaram com um desejo de vingança. O duelo ao sol que se segue, à boa moda dos westerns americanos, é qualquer coisa a tocar o épico.
Neste “Homem de Ferro”, uma história de fadas alternativa com uma lata gigante e um morcego-dragão que vieram do espaço, Ted Hughes promove uma crítica ao mundo terrestre através do olhar de dois estranhos, ao mesmo tempo que exalta o poder de transformação da música: “estranha, desvairada e exultante“. Um livro belíssimo e de certa forma retro, que conta com ilustrações de Andrew Davidson, num traço negro e carregado onde se pressente a sombra do militarismo vigente na época.
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