A discrição é aquela característica que pode ser aplicada com dois sentidos bem distintos: o elogioso – a distinção pela sobriedade, notável mas sem necessidade de grandes apanágios ou manobras de distracção – ou o insuficiente – aquele que cumpre a sua função, mas que rapidamente cai no esquecimento e não fica gravado, de alguma forma, na nossa memória . “O Homem das Cavernas” (D. Quixote, 2018) de Jorn Lier Horst, inscreve-se facilmente no primeiro género.
Autor da série de thrillers que tem como protagonista o detective William Wisting, Horst é considerado um dos principais escritores de policiais da Noruega. Ele que foi inspector-chefe da Polícia de Larvick, tendo o realismo da sua escrita recebido um bom contributo da sua experiência pessoal, reflectindo um quotidiano autêntico.
“O Homem das Cavernas” é já o nono título da série e o terceiro editado em Portugal, unindo, no mesmo caso, Wisting e a sua filha Line, jornalista de investigação. O acontecimento inicial é a morte de um homem solitário, Viggo Hansen, vizinho do Inspector Wisting. As circunstâncias que envolveram a sua morte – foi encontrado sentado em frente da televisão quatro meses depois – despertam o interesse de Line, impressionada pela solidão da morte de alguém que fez parte da paisagem humana da sua vida, pelo que propõe ao seu chefe um artigo sobre este assunto.
A investigação policial, iniciada com uma situação que, embora invulgar, parece aparentemente ser de fácil explicação, ganha proporções transatlânticas, trazendo mesmo agentes do FBI a solo norueguês. A investigação jornalística avança igualmente de forma inteligente, numa procura incessante de uma verdade bem guardada e por revelar.
Jorn Horst consegue inquietar-nos não só com a consequência e ritmo dos acontecimentos mas, também, porque toca em múltiplos temas das relações humanas – a solidão, o preconceito, a intolerância. Premiado em 2016 com o prémio Petrona (melhor romance policial escandinavo do ano no Reino Unido), “O Homem das Cavernas” distingue-se por nos envolver num ambiente discreto mas intenso, com uma inteligência e integridade que honra tanto polícias como jornalistas.
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