75 anos depois, Blake & Mortimer continuam a ser uma dupla de respeito. Criada pelo belga Edgar P. Jacobs, esta série de álbuns de banda desenhada apareceu pela primeira vez na revista Le Journal de Tintin, no dia 26 de Setembro de 1946 e, após a morte de Jacobs, em 1987, muitos foram os ilustradores e argumentistas que têm continuado a dar-lhe vida.
Após o lançamento de “O Último Faraó”, um livro Fora de Colecção que esteve entre os grandes lançamentos de 2020 no que toca a banda desenhada, foi lançado no mesmo ano “O Grito do Moloch” (Asa, 2020), o 27º volume de As Aventuras de Blake e Mortimer. Um livro que tem como argumentista Jean Dufaux, que já havia participado em “A Onda Septimus”, o 22º álbum publicado em 2013 – e que, aproveitando a embalagem, terá feito deste “o Grito do Moloch” uma espécie de sequela.
Os extraterrestres marcaram presença no coração de Londres, tendo a Orfeu I, a nave espacial que lhes serviu de transporte, despenhado-se no coração da cidade, sendo mantida em segredo com o conhecimento das autoridades. Apesar de tanto o primeiro-ministro como o professor Scaramian, o seu conselheiro científico, se terem oposto à destruição do engenho espacial, Blake reuniu um grupo de confiança – onde se incluíam Mortimer e Olrik – e acabou por destruir a nave. Olrik, porém, não aguentou a manipulação cerebral que o processo envolveu, e acabou por se juntar, no Bedlam Hospice, ao major Blanks e aos seus homens.
Muitos anos depois, a pergunta que se coloca é esta: seria a Orfeu I a única nave espacial que se despenhou em Londres? De acordo com Mortimer, para avançarem neste caso será necessário recomeçar a partir do célebre caso da Grande Pirâmide, e para isso recorre a uma fórmula esotérica para despertar Olrik.
As dúvidas acabam por ser desfeitas por Scaramian, que confidencia a Mortimer que existe também a Orfeu VII, que trouxe consigo um hóspede muito especial, ainda semi-adormecido, baptizado de Moloch pela equipa que transformou um cargueiro desmantelado num laboratório de primeira linha. Entre os anseios da ciência e o receio de uma catástrofe com a sombra de Pandora, a dúvida que se instala é esta: “E se este se revelar uma maldição para o homem?”.
Com o poder da escrita a correr nas entrelinhas, acompanhado por uma nova guerra dos mundos agora aos quadradinhos, “O Grito do Moloch” será motivo de regozijo para fãs de longa data, podendo ser também a porta de entrada a novos leitores. Uma saga que vai mantendo o espírito e o grafismo originais e que, ironicamente, acaba por negar, no bom sentido, uma das frases de azulejo que encontramos pelo caminho: “Tudo é, sempre, uma incógnita”.
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