Considerado um dos mais queridos autores de livros infantis de todos os tempos, Theodor Seuss Geisel foi propenso à criação de pseudónimos e assinaturas. Como se não bastasse o facto de ter ficado imortalizado como Dr. Seuss – nos livros que escreveu e ilustrou -, teve ainda vários nomes para alguns dos livros onde trabalhou apenas como escritor, tais como Theo, LeSieg ou Rosetta.
Após a publicação do inédito “Que amigo levo comigo?”, a Booksmile continua a sua missão editorial revestida de serviço público com a edição de mais duas obras deste Dr. da literatura infantil: “O Gato do Chapéu” e “Ovos verdes e presunto”.
Em “O Gato do Chapéu”, Sally e o seu mano estão enfiados em casa a olhar pela janela: o sol não brilha e tudo está ensopado. Além disso a casa está, de acordo com o termostato interior de cada um, gelada, o que limita seriamente a escolha da brincadeira. Até que um estrondoso “PUM” os devolve à realidade do lar, sobretudo quando vêem entrar o muito estiloso e descontraído Gato do Chapéu que, contrariando o negrume instalado, oferece uma quadra tão animadora quanto um raio de sol:
“Eu sei que lá fora está tudo ensopado
e sei que lá fora o Sol está escondido.
Mas aqui em casa podemos inventar
um divertimento bem divertido!”
Com a mãe fora quase todo o dia, Sally e o irmão começam a achar piada à proposta do gato, ao contrário do peixe que exige que o gato se faça à estrada. De repente já se joga a coisas como o Não-deixes-o-peixe-cair ou A-galhofa-na-caixa, mas a barafunda vai dando lugar à bagunça e a mãe, essa, está quase a chegar. Conseguirão os manos limpar toda a casa e convencer o Gato a ir-se embora antes que a mãe regresse a este súbito Inferno?
É um festim olhar as páginas e reparar nos pequenos detalhes: o peixe no seu aquário redondo a abrir a boca, o pássaro a sacudir a água na copa da árvore, a raquete de ténis repousando com uma bola azul por perto. Uma história muito divertida, que segue o método da repetição e do acrescento, mostrando que as grandes aventuras podem ser vividas mesmo dentro de quatro paredes.
Em “Ovos verdes e presunto” o território é já outro, mais virado para o lado educativo. “Será que gostas de ovos verdes e presunto?” – é esta a pergunta que Sam – ou Sam-Eu-Sou – faz insistentemente ao amigo, procurando levá-lo a provar algo novo que, assim de repente, parece uma combinação muito estranha de se fazer – sobretudo quando pensamos em ovos pintados de verde.
A cada proposta, seja comer os ovos verdes e o presunto em casa, numa caixinha ou na companhia dos mais inesperados animais, a resposta é sempre dada com a mesma cantiga (com pequenas variações):
“Não os quero
aqui nem acolá.
Não os vou querer
aí ou além ou cá.
Eu não gosto deste assunto
dos ovos verdes e presunto.
Não gosto e pronto,
Sam-Eu.Sou. Ponto!”
Embarcamos assim numa viagem ao estilo de “O Livro Inclinado”, com muita velocidade e que parece destinada a acabar mal – ou, pelo menos, com algumas mazelas. Até que, vencido pela repetição e pelo cansaço, o amigo lá torce o nariz e decide experimentar esta estranha combinação.
As ilustrações têm um toque de surreal, levando os leitores a entrar no domínio dos sonhos ao partilhar o ar expectante e divertido dos animais, o uso parco da cor sobre o branco, o magistral traço preto e a sensação de eterno movimento, seja em grandes espaços ou na intimidade do grande plano. No final e depois de uma aventura de todo o tamanho, fica a moral ou o ensinamento desta história: experimentar coisas novas, ainda que com nomes tão estranhos como ovos verdes com presunto, pode revelar-se uma agradável surpresa.
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