Quando a noite chega a cidade dorme e o silêncio ecoa. Gaspar, um jovem rapaz solitário, “como de costume, tem os olhos bem abertos e deixa a mente vaguear”. Gaspar não gosta da noite e de todos os receios e fantasmas a ela associados. A escuridão afugenta o sono, as sombras são aterradoras e o mais pequeno barulho soa como o maior dos ruídos. Tudo lhe mete medo. A única salvação seria um amigo. Enquanto cogitava quão bom seria ter um companheiro, surge a maior das surpresas.
Uma doce e graciosa ratinha, habitante escondida na mesa de cabeceira, convida o jovem rapaz para a acompanhar. Estupefacto, Gaspar obedeceu sem conseguir balbuciar uma frase completa, nem tão pouco se interroga de onde surgiu esta sua nova amiga.
Ambos iniciam uma visita pela casa, de olhos bem abertos, e Gaspar entrará numa aventura inimaginável, onde cabe uma toupeira, a habitante mais erudita da casa; um coelho pianista, um pequeno pinguim banhista; um porquinho lambuzado de chocolate; ou o panda que sonha ser campeão do mundo de badminton. Afinal, o Gaspar não está sozinho. Será que a noite ainda lhe mete medo? Ou será que se revelou boa para fazer novos amigos? Haverá mais por descobrir?
Quando a noite chega, o sono pode tardar, mas não haverá lugar para o medo, e a “noite não é assim tão escura…”, descobriu o jovem rapaz. Após aventuras tão intensas, as pálpebras de Gaspar começam a pesar, devagar, muito devagar … o sono está a chegar.
“O Gaspar na Noite” (Orfeu Negro, 2023) é um livro deslumbrante, onde as emocionantes experiências possibilitam espantar o medo e descobrir a tranquilidade. É uma leitura hospitaleira, onde o leitor se sente em casa, uma casa mágica e imagética – quer pelas descobertas dos detalhes, quer pelos cenários oníricos.
As ilustrações de Seng Soun Ratanavanh transportam-nos para um mundo encantado. A pintura das paredes, as roupas coloridas, os pormenores de cada uma das divisões da casa levam o leitor para um mundo confortável e acolhedor, como se da sua casa se tratasse. As guardas marcam o tempo da narrativa: começamos por espreitar a janela fechada do quarto do Gaspar e, no final, encontraremos uma janela aberta, onde o vento da serenidade sopra.
Seng Soun Ratanavanh estudou na escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Inspira-se na arte e cultura do Japão para ilustrar e pintar.
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