Imaginem que personagens com o estilo, a mania, a classe e o apetite pela confrontação, tais como Cantona ou Ibrahimovic, tinham trocado os relvados por uma menos verdejante cozinha. Depois de alguma ruminação e sobretudo pesquisa, irão deparar-se com o resultado mais provável: o irreverente Marco Pierre White, um chef que, entre muitas outras coisas, transformou o acto de cozinhar em algo sexy, atirando com funcionários para caixotes do lixo e clientes para o olho da rua, ainda arranjando tempo para ser mestre e senhor de sucedâneos como Gordon Ramsay.
Em “O Diabo na Cozinha” (Quetzal, 2017), Marco Pierre White – com uma mãozinha de James Steen – conduz o leitor através de uma biografia com muito de exibicionismo, ele que se tornou lendário por ter sido o primeiro e mais jovem do mundo a ser galardoado com três estrelas Michelin e o chef preferido de estrelas e aristocratas.
Sempre com um estilo a tocar o incendiário, Marco fala sobre o caminho que o levou ao estrelato, à quase loucura e ao assumido eclipse, contando episódios pessoais e penetrando nos bastidores de algumas das mais famosas cozinhas do mundo.
Ficamos a conhecer as diferenças entre os restaurantes americanos e ingleses. Acompanhamos a descoberta e a paixão pela América, apesar do medo de voar e do complicado jet lag. Ouvimos o conselho precioso que o pai, educado segundo valores e princípios Vitorianos, lhe deu: “Torna-te chef. De comer, as pessoas hão-de precisar sempre”. Entramos em restaurantes de topo e conhecemos linhagens e nomes lendários como o Gavroche. Aceitamos que o mau-feitio permanente terá nascido com a morte prematura da sua mãe aos 38 anos. Apegamo-nos a uma disciplina de ferro, criando ódios de estimação e amizades para a vida. No final, somos ainda brindados com o resumo da vida de Marco, através de receitas capazes de fazer furor em qualquer mesa.
Marco Pierre White, que mais do que inventar se tornou o mestre do refinamento, abandonou a cozinha em 1999, tendo regressado não há muito tempo para servir de anfitrião ao reality show “Hell`s Kitchen”. O bom filho à casa torna, apetece dizer.
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