Depois de um estrondoso sucesso com o romance de estreia intitulado “O dia em que perdemos a cabeça”, best-seller com mais de 275 000 exemplares vendidos por pontos tão díspares do globo como Coreia, Japão, Argentina, México, Colômbia, Turquia, Itália e Portugal – e cujos direitos audiovisuais estão já adquiridos para uma adaptação ao pequeno ecrã -, o autor que a ABC já denominou de Stephen King espanhol está de regresso.
Apesar de muito ansiada pelos fãs, “O dia em que perdemos o amor” (Suma de Letras, 2020), sequela das desventuras de Jacob Frost e Stella Hayden/Amanda Maslow, não será de todo o melhor cartão-de-visita para os leitores que ainda não estejam familiarizados com a obra de Javier Castillo.
Não obstante a linguagem simples, acessível e as intrigas dantescas que serão decerto do agrado dos fãs de thrillers policiais, aqueles que adquiram “O dia em que perdemos o amor” sem conhecer a sua prequela correm o risco de se perder na teia demasiado intricada de enredos e saltos temporais, ficando sem perceber o porquê de muitas das opções narrativas do autor ou a essência dos personagens como o Inspector Bowring Bowring (cujo nome duplicado faz todo o sentido porque a personagem é deveras aborrecida). Por exemplo, quem são Jennifer Trausse, Eric e Claudia Jenkins? Qual o papel do doutor Jesse Jenkins na conspiração dos Sete e porque é apelidado de director? Qual a ligação entre Laura Jenkins e Jacob Frost?
Incompreensíveis são também algumas das opções narrativas do autor. Quem é que iria andar nu ou nua no meio de Nova Iorque em Dezembro? Porquê chamar a um personagem Bowring Bowring? Também à ligação entre Carla e Roeland parece faltar qualquer coisa. Numa altura em que tanto se fala da igualdade entre homens e mulheres, a submissão da personagem ao amado que a traiu sem sequer pedir uma explicação parece forçada. Sendo que o próprio Roeland, bem como as suas ligações não só a Carla mas também a Bella e a Bowring, são outros dos pontos da narrativa a raiar o nonsense.
Não sendo o livro ideal para quem pretende uma leitura de verão que esvazie a cabeça dos problemas deste ano de trabalho atípico, “O dia em que perdemos o amor” irá agradar aos leitores compulsivos e admiradores do género policial. Aconselha-se, porém, a começar a viagem por “O dia em que perdemos a cabeça”, de forma a ligar os pontos em falta e mergulhar precavido na obra daquele a quem Joel Dicker chamou o novo fenómeno da literatura europeia.
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