Oliver Jeffers está de regresso à Orfeu Negro – aqui acompanhado pela história de Drew Daywalt – e, com ele, regressam também Duarte e os seus irrequietos lápis de cera, sempre dispostos a lutar pelos seus direitos. O livro é o seguimento de “O dia em que os lápis desistiram”, um dos mais fantásticos álbuns ilustrados que os mais pequenos poderão ler.
Enquanto Duarte se encontrava despreocupadamente a desenhar, o correio traz-lhe um molho de postais. O primeiro deles, assinado pelo lápis grená, vem com um carimbo de Sines, e nele o lápis conta que está desaparecido há dois anos e que foi partido ao meio quando o pai de Duarte se sentou em cima dele. A sua sobrevivência foi assegurada graças a um clipe caridoso, que dele tem tomado conta até ao seu restabelecimento. A exigência do lápis é simples: regressar a casa e, se possível, levar com ele o clipe.
O Estéban (ou verde-ervilha) diz que se cansou de ninguém gostar da cor das ervilhas e, por isso, irá partir à descoberta do mundo. Já o lápis vermelho-vivo recorda com saudade o desenho do escaldão do pai do Duarte, relembrando que ainda se encontra – desde há oito meses – no Hotel dos Zimbros à espera de uma boleia. O laranja e o amarelo, inimigos mortais no que toca a decidir a verdadeira cor do sol, ficaram amigos desde que foram abandonados ao calor. Quanto ao lápis-bronze (ou será dourado-escuro?) foi, provavelmente, aquele que teve mais azar, comido por um cão e vomitado no tapete da sala. Mas há muito mais postais nesta caixa de lápis de cera, deixados ao abandono um pouco em toda a parte.
Subitamente o Duarte fica triste por saber que tinha perdido, esquecido, partido ou desprezado tantos lápis ao longo dos anos, e decide salvá-los a todos dos muitos e variados infortúnios. O problema, porém, é que com tantos estragos os lápis deixaram de caber na caixa. Até que, uma vez mais, Duarte puxa pela imaginação e encontra a solução perfeita.
“O dia em que os lápis voltaram a casa” (Orfeu Negro, 2016) é, à semelhança do volume anterior, um festim no que toca à arte da ilustração, com o recurso às mais variadas técnicas. O traço a lápis de cera vai do desenho à criação de letterings que servem de alfabetos, aliando a ilustração à fotografia e, também, à utilização de objectos reais – postais, afia-lápis, páginas de livros ou cadernos – que, entre uma explosão de cores, fazem deste universo imaginário uma plausível realidade. Mais um grande livro que alia uma divertida história à fabulosa imaginação de Jeffers.
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