Cthulhu, nome dado ao grande ancião que sonha e espera nas profundezas do abismo do oceano negro, é uma das mais famosas histórias da literatura fantástica americana, assinada por H.P. Lovecraft nos longínquos anos 1920.
Em “O Despertar de Cthulhu” (Saída de Emergência, 2019) estamos em Boston no ano de 1926. Francis Thurston é o herdeiro de um estranho legado, a ele deixado por um tio-avô, que envolve uma seita que venera uma criatura adormecida há milhões de anos. Um conto de fadas, ou talvez não.
Neste álbum de grande formato, destinado àquela prateleira da biblioteca que tem por missão arrumar os livros mais difíceis – este livro é um autêntico Golias -, preparem-se para sacrifícios à beira-doca, mortes ocorridas em várias geografias, artistas dados à loucura depois de noites bem acordadas, incêndios a fazer lembrar os Verões portugueses e o surgimento de uma cidade que parece ter a rara habilidade de flutuar. Ou, ainda, para um daqueles momentos em que o mundo parece mesmo estar a centímetros do seu fim – ou, pelo menos, estar a tornar-se num Júlio de Matos à escala global.
A arte de François Baranger é perfeita para fazer arrepiar cada um dos pêlos corporais do leitor, mesmo que tocada pelo espírito moderno da ilustração – há muito trabalho de pós-desenho por aqui. Cores negras, nevoeiro, neblina, sombras, ilusões, num casamento para durar com o terror Lovecraftiano. Tenham medo. Tenham muito medo ao abrirem este álbum de formato gigante – quase tão gigante quanto Cthulhum -, que nos conduz a uma nova noção de alívio: “Penso que a coisa que mais alívio nos traz, neste mundo, seja a incapacidade da mente humana em correlacionar todos os seus conhecimentos”. Bendita ignorância, apetece dizer.
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