“Quando as paixões humanas colidem com as forças para além do controlo humano.”
Marco Carrera é um oftalmologista com uma vida boa e organizada – até que lhe entra pelo consultório um desconhecido, que sabe tudo sobre o seu passado e o avisa de que corre perigo. A partir daqui, são inúmeros os rumos possíveis pelo qual Sandro Veronesi podia guiar o leitor, e o seleccionado não é nada mais, nada menos, que o caminho perfeito.
Fragmentado e gradualmente reconstituído, este romance salta na linha cronológica e convida o observador a fazer parte da construção da narrativa. Afinal, que vida tem Marco Carrera? Que passado esconde? Quem é Luisa, com quem se corresponde há anos? Como sobrevive à perda de entes queridos? O que o faz mover?
Veronesi conta-nos, em “O Colibri” (Quetzal, 2022), a história de Marco Carrera, devagar e com tranquilidade, recorrendo a saltos no tempo que vão desvendando as várias fases da sua vida que o tornaram quem são. No fundo, conta a vida de cada um, sobretudo daqueles que têm degraus muito altos para subir e obstáculos que desviam por completo o curso daquela que poderia ser a sua vida. Os eventos marcantes, os sonhos (cumpridos ou desfeitos), as ambições, os sucessos, as dores, os desencontros. A vida a acontecer.
Há aspectos que merecem especial atenção à medida que se descobre a história e termina a leitura, como a perda da irmã no momento exacto em que Marco e Luisa se beijam. Se, de um lado, Marco tem de lidar com a perda, fazer o luto e seguir com a sua vida, com tudo o que esse vazio lhe traz ao longo dos anos, por outro, a relação de Marco com o amor da sua vida tem destino traçado, pois seria impossível vir a concretizar e a dar forma a este sentimento que nasceu numa noite trágica. Este entrelaçar de acontecimentos, que nunca acontece isolado, tece uma teia complexa que acompanha o protagonista durante toda a vida, reflectindo a complexidade do Homem nas suas próprias experiências, no seu crescimento e na sua maturação.
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