“Quando a Vanessa estava em casa aborrecida, sem nada para fazer, ia à estante da sala buscar os livros de histórias que o pai lhe lia todas as noites. Como não sabia ler, só tinha olhos para os desenho”. Este é o início do conto “O Circo das Palavras Voadoras” (Porto Editora, 2022), de Álvaro Magalhães, que dá nome ao livro, o qual reúne as duas primeiras histórias que o escritor, de inúmeros títulos juvenis, escreveu para os mais novos em 1982 – escritor que, em 2022, celebrou 40 anos de vida literária.
Em “O Circo das Palavras Voadoras”, Vanessa quer descobrir o mundo das letras, das palavras. Um dia, a jovem pede ao pai “para lhe falar das letras que contavam histórias”. Depois de pensar um pouco, o pai decidiu: “Vou levar-te à terra delas. Talvez amanhã. Vais conhecê-las a todas, uma por uma, como deve ser. Cada uma é diferente das outras e todas têm a sua história”.
No mundo das letras conhece o professor Alfabeto, e descobre que as palavras voam livremente e só dizem aquilo que querem dizer. Que cada letra – e palavra – tem o seu poder, mas também que é preciso conhecê-las e saber usá-las. Há palavras belas, como Amor, Amizade ou as palavras dos “poemas para bebés”; há palavras feias, como Guerra; há palavras equilibristas, e outras muito desequilibradas e desajustadas; há palavras leves, que voam com o vento; há palavras voadoras, que dão volta ao mundo.; há pessoas “capazes de dizer as coisas mais feias com as palavras mais bonitas”.
Afinal, para que servem as palavras? Para conhecer, brincar e dançar. Para entrar numa aventura hilariante, divertida e enriquecedora. Contudo, poderão por vezes ficar débeis e adoecerem, como o C de cedilha, que “teve uma infeção na cedilha e começou a sentir dores”. Nesta aventura pelo mundo das palavras, a jovem protagonista do conto fica a conhecer as inúmeras doenças de que sofrem as letras, aprendendo que é necessário cuidar de cada uma delas – e das palavras -, e que muitos são os seus cuidadores.
No Natal, a avó oferece uma flauta à Vanessa, que adorou o presente. Nos dias que se seguiram, não largou a flauta e tocava sempre que podia. “A flauta também andava contente. Cada vez tocava melhor, bastava soprar-lhe um bocadinho que ela depois tocava sozinha”, mas o tempo foi passando e o encantamento esmorecendo. Fez-se silêncio. Porque as palavras também servem para isso: para silenciar e descobrir outras linguagens, outras formas de brincar e dançar. “O Circo das Palavras Voadoras” é uma ode às palavras, ao seu poder e valor. Álvaro de Magalhães, o brincador de palavras, tem-nos encantado ao longo dos anos.
A obra de Álvaro Magalhães para crianças e jovens integra poesia, conto, ficção e textos dramáticos, repartindo-se por mais de 120 títulos. Caracteriza-se pela originalidade e invenção, quer na escolha dos temas quer no seu tratamento. Foi várias vezes premiado pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo Ministério da Cultura. Em 2002, “O limpa-palavras e outros poemas” foi integrado na honour list do Prémio Hans Christian Andersen; em 2004, “Hipopóptimos – Uma história de amor” foi distinguido com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian; e, em 2014, “O senhor Pina” recebeu o prémio Autores, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores ao melhor livro infanto-juvenil publicado nesse ano.
Sebastião Peixoto é ilustrador e colabora com várias editoras. Em 2012, o livro “Quando eu for…grande”,« foi nomeado como melhor livro infanto-juvenil pela Sociedade Portuguesa de Autores, e editado na Colômbia e na China. Em 2014 venceu uma menção Honrosa no 7º Encontro Internacional de Ilustração de S. João da Madeira. Em 2016 foi seleccionado para o Catálogo Ibero Americano de Ilustração e, em 2017, ganhou um gold award na THESIF (The Seoul Illustration Fair).
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