“Fresco, despretensioso, divertido, com ritmo e com graça”. Foi assim que Ana Maria Magalhães, então júri do Prémio Branquinho da Fonseca, descreveu “O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca” (Planeta Tangerina, 2012), livro que acabou por levar o prémio para casa e ser publicado pelo Planeta Tangerina, lançando Ana Pessoa numa carreira que tem sido um regalo acompanhar.
“Eu não sou uma menina, sou karateca. (…) Sou a N. N é a segunda letra do meu nome”. Assim se apresenta N, detentora do cinturão cor-de-laranja, uma karateca que se perde de amores pelos postais dos mostradores e que acaba de comprar um caderno. Um caderno com vida própria e “páginas movediças” – afinal, como diz o seu professor, “um caderno é sempre aquilo que tu queres que ele seja”.
Com N, que gosta do Raul e está prestes a fazer 15 anos, somos brindados com uma curiosa interpretação e reinvenção do método científico através de um teste de personalidade – “Para que interessa a verdade se ninguém a entende?” -, a sua pouco crente relação com a religião – “Deus passa a vida a dar faltas injustificadas na minha vida” – e descobrimos, num dicionário, um companheiro que nos tira as dúvidas, apresentando-nos a palavras tão incríveis quanto “romântico” ou “diarreia”.
A meio do livro descobrimos uma incrível galeria de ilustrações, todas no triângulo vermelho, preto e branco, bem como um apontamento do que é a beleza da ficção (e deste livro): “Por vezes gostaria de ser como tu: vários seres num só, várias possibilidades, várias formas de expressão, vários conteúdos. Um gato, um coelho, uma mosca, uma personagem, uma pessoa, um caderno vermelho. (Hoje andaste pela casa a voar atrás de mim, porque estávamos sozinhos. Eu estava a lanchar e tu voavas pela cozinha, pousavas no frigorífico, na máquina de lavar roupa, na janela, no meu cocuruto. Gosto que pouses no cocuruto.) (Quero ser como tu.).” Alguém ofereça um cinturão negro a Ana Pessoa.
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