“O mundo inteiro cabia naquele jardim: a horta cheia de couves, as árvores gordas, as galinhas e os ovos, o lago pequeno, o tanque ainda mais pequeno e, claro, o baloiço azul.”
Era com Asdrúbal, o jardineiro, que Luísa ia aprendendo o nome das plantas. Asdrúbal que, apesar da idade bem comprida, tinha a habilidade de andar sempre entusiasmado, uma sensação que lhe chegava dos minutos diários em que se sentava num baloiço azul, “passeando os seus pensamentos no ar”.
Um passeio que, volta não volta, o levava até às estrelas, onde certo dia encontrou um papagaio “feito de penas cor de prata e azul-turquesa”, que na verdade era um guardador de palavras, confiando às estrelas aquelas que ouvia e que decidia que não se poderiam perder.
Segundo o papagaio, o mundo está cheio de pessoas que precisam “das palavras certas”, e nunca são demais as palavras confiadas às estrelas, que os papagaios tratam depois de distribuir usando para isso uns óculos especiais. O problema é que as palavras vão faltando, já que os homens vão tendo cada vez mais coisas para fazer e ainda menos tempo e vontade de falar.
Em “O Baloiço Azul” (Gailivro, 2018), Rosário Alçada Araújo mune-se do eco da poesia para revelar as ideias que se abrigam nas palavras, prestando homenagem à memória literária colectiva e à literatura como legado. As ilustrações são de Patrícia Furtado que, volume atrás de volume, vai deixando também o seu traço, normalmente em histórias onde o sonho prevalece.
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