“São os livros que dão à luz os escritores, não o contrário.”
José Eduardo Agualusa
Leila Ferreira, escritora e jornalista brasileira que publica desde 2007, é a autora de “O Amor que Sinto Agora” (Planeta, 2018), o seu sexto livro e o primeiro publicado em Portugal, onde constrói uma narrativa de grande sensibilidade, baseada na história da sua vida.
A partir de uma carta deixada pela mãe antes de morrer, responde às palavras dessa missiva quatro anos depois, quando reúne a coragem para a abrir, fazendo uma sucessão de pesadas confidências e confissões sobre o seu passado, “sobre tudo o que passou sofreu, silenciou e descobriu da infância até aos tempos atuais”, o processo de luto e a forma de reaprender a vida.
Romance intenso, com a verdade dilacerante nunca omitida mas relatada de forma gentil, conta a vida das duas mulheres como se não houvesse “ausência entre as duas nem distância no tempo”, ajudando quem o escreve a aceitar algumas situações extremamente dolorosas.
Numa bem doseada mistura de realidade e ficção protagonizada por Ana, uma mulher que enfrentou uma infância difícil – aliás na senda das mulheres infelizes da família: mãe, a avó e bisavó -, um casamento fracassado, violência sexual – iniciada pelo próprio pai – e uma depressão, surge a imensa e intensa conversa confessional de uma filha para com sua mãe, sempre na primeira pessoa e em forma de tratamento íntimo. Ao todo são mais de quarenta cartas, o que demonstra, a par das viagens efectivas e afectivas ao Egipto, México e França, que a protagonista faz a grande viagem, “acompanhada pela mãe”, ao interior de si mesma.
Um romance terno e comovente sobre o amor e a mudança existencial, que leva à transformação pessoal e a uma viagem que não fica no limite de quaisquer fronteiras, libertando o mais íntimo das emoções e memórias de uma mulher que tocam o leitor de forma inesquecível.
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