Se, a dado momento de “Nunca Mais Falamos Disto” (Euforia, 2024), começarem a ter visões de “Jovem Procura Companheira”, o filme de 1992 realizado por Barbet Schroeder, não disparem à procura da medicação. Aliás, é a própria autora – Andrea Bartz – que trata de atar as pontas soltas revelando, a dado momento, uma influência óbvia: “Se calhar estava a ser paranóica – se calhar era tudo um grande mal-entendido e eu estava a interpretar mal os gestos inocentes de Kristen, como uma cena assustadora do tipo Jovem Procura Companheira”.
Kristen e Emily são besties há uma década e, todos os anos, partem na sua viagem anual, sempre rumo a destinos exóticos que não atraiam hordas de turistas. O que as une é, porém, mais do que a amizade profunda: um segredo convertido em trauma, que se tornou na cola que une uma relação que parece ir durar para sempre – e com a pilha no máximo.
Quando um novo acontecimento traumático tem lugar na sua viagem à América do Sul, Emily regressa aos Estados Unidos decidida a apostar na relação com o novo namorado, esperando que o fosso geográfico que a separa de Kristen a ajude a adormecer as memórias que lhe assombram os sonhos. Kristen, porém, tem outros planos, regressando da longínqua Austrália para se instalar no mesmo bairro de Emily, que aproveita para embarcar num exercício introspectivo que conduz a um estado de paranóia.
Com “Nunca Mais Falamos Disto”, Andrea Bartz questiona os limites das relações – e a falta deles -, as dinâmicas de poder e até que ponto estamos preparados para perder, a dado momento da linha temporal, um rim emocional. Ainda que perca a embalagem na segunda metade, é thriller para valer algumas horas de sobressalto – e para despertar a vontade de (re)ver Jovem Procura Companheira.
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