“Nora Webster” (Bertrand, 2016), de Colm Tóibín, é o último romance do autor e aquele que mais demorou a ser escrito: 13 anos, para sermos mais precisos. Como disse numa entrevista, a ideia primeira do livro foi a de não ser ‘’um livro autobiográfico, mas que descrevesse, com algum detalhe e muita invenção, a vida que vivemos em casa com a minha mãe, nos anos após a morte do meu pai.”
A história situa-se por volta de 1969, ano da ida do Homem à lua. Nora Webster, de 40 anos, acaba de enviuvar de Maurice. Depois da morte do marido e da quebra de relacionamento com os filhos – quatro -, ocorrida durante a convalescença do pai, depara-se com uma situação sem precedentes: sem formação ou economias, terá de voltar a trabalhar na mesma empresa da qual se despedira 25 anos atrás, antes de se casar.
A vida segue monótona. Nora aproveita as férias e os fins-de-semana para estar com os filhos, recordando momentos idos de felicidade. Um dia substituiu uma vizinha – Phyllis – num concurso, onde encontra um velho conhecido – Tom Darcy – que insiste em pagar-lhe uma bebida e decide recordar o talento nato de Nora para o canto, fazendo renascer um amor antigo.
Enfrentando a tristeza, Nora vai-se transformando numa mulher forte: confrontada com a solidão e dois filhos para criar numa cidade pequena e conservadora, decide que é altura de encarar a vida fazendo aquilo que tem vontade, seja pintar o cabelo ou usar um casaco vermelho. Tudo sem dar importância a comentários alheios. Aprende a cuidar dos filhos e, ao mesmo tempo, a explorar a sua veia artística.
Tóibín apresenta, em plano secundário, os motins que a Irlanda do Norte viveu entre católicos e protestantes e que, a dada altura, se aproximam de Wexford, lugar onde decorre a acção deste “Nora Webster”, um romance-lição para todos os que passa(ra)m pelo processo da perda: não há vida que não possa ser reformada, não há vida que não possa ser restruturada, não há vida que não possa ser vivida.
‘’Só um mês depois (…) percebeu que a música estava a transportá-la para longe de Maurice, para longe da vida com ele e da vida com as crianças. (…) Era a intensidade do tempo que lá passava; estava sozinha consigo mesma, num sítio onde ele nunca a teria acompanhado, nem mesmo na morte.’’
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