Dez autores, dez contos, dez formas de ser mãe. Mães que são o mote do livro “Nome de Mãe” (Companhia das Letras, 2022), livro escrito por dez autores de língua portuguesa: Afonso Reis Cabral, Hugo Gonçalves, Jacinto Lucas Pires, João Tordo, Kalaf Epalanga, Mário de Carvalho, Miguel Araújo, Ondjaki, Ricardo Adolfo e Valério Romão.
Esta obra é um bilhete para uma exposição sobre a mãe. Nela constam quadros belos e ousados, outros escuros e emotivos, telas em branco, espaços desarrumados com puzzles desfeitos e frases intensas que nos acolhem num abraço profundo. Quem conhece os autores que assinam os textos que compõem este livro, reconhecerá nas entrelinhas a sua autoria. Os textos são fiéis a cada um, e é este o único traço que têm em comum.
Como pode uma palavra com apenas três letras dar aso a tão desconcertantes histórias? Ou, por outra, como pode uma simples pessoa representar tanto e influenciar de forma tão fracturante a vida de outros? Somente as mães têm esse poder, sejam elas quem dá vida ou quem cuida e acolhe. Se há algo que todos os seres humanos do mundo têm em comum é o facto de todos terem uma mãe. Todavia, todas elas são diferentes: umas, são luzes que nos iluminam o caminho; outras, sombras que nos perseguem mentalmente sem nunca ousarem proferir uma palavra amiga – neste livro temos mães de todos os tipos e feitios.
Ao abrir este livro, consentimos em sentir muitas coisas – e de formas muito distintas: choramos, rimos e filosofamos. Entre as folhas desta obra residem mães no leito da morte; mães que foram demasiado protectoras, e que nunca deixaram que os seus filhos saíssem do ninho; residem também filhos contentes e descontentes, chorosos e perdidos; residem mães duquesas, a quem a demência destrava a língua; mães que são, agora, filhas dos seus filhos; e residem igualmente mães sem amor, depois de terem dado a vida em prol das suas crias; mães-avós e mães em condições desumanas, e ainda uma mãe que só se apresenta ao filho depois da sua morte, acompanhando-o sem querer, como um fantasma, pelas ruas da sua vida.
Não obstante a forma como cada história está redigida, tenderemos a gostar mais dos contos com os quais nos identificamos de alguma forma, seja por reflectirem a nossa vida pessoal ou por espelharem uma relação de mãe e filho que nos é próxima. Destaque para o conto de Miguel Araújo, pela forma menos convencional de tratar a relação filho-mãe, pela originalidade do seu discurso e pela ousadia e ironia das suas palavras.
Um livro que terá muitas interpretações, por ser pessoal até ao tutano e tocar num dos pontos mais sensíveis para todos os seres humanos: as suas mães.
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