No ano de 1879, depois de passar quatro anos no Brasil, Rafael Bordalo Pinheiro regressou de paquete a Portugal. E, mesmo não estando à espera de uma passadeira vermelha, estaria longe de imaginar que, após vinte dias de viagem, seria obrigado a ficar em quarentena no Lazareto, um edifício isolado em Porto Brandão, na margem sul do Tejo. Um lugar com a missão de acolher e desinfectar pessoas e objectos vindos de lugares ameaçados por epidemias ou doenças contagiosas, que, no caso da proveniência de Bordalo Pinheiro, era a febre amarela.
Durante o tempo em que por lá permaneceu, decidiu “ser útil mesmo brincando” e, com “ligeiros traços a lápis”, recordou em “No Lazareto de Lisboa” (PIM!edições, 2020) – publicado um ano mais tarde -algumas das peripécias vividas durante a sua estada do Brasil, bem como os dias de verdadeira penitência passados no edifício do Lazareto.
E fá-lo com mestria e muita classe, transformando o mal-dizer numa arte ao alcance de poucos, parco em palavras, certeiro no arremesso político, mordaz no olhar, cáustico nesses traços a lápis que transforma em desenhos humorísticos de excelência.
Uma edição requintada, que chega às livrarias com o selo da PIM!edições, que se aproxima o mais possível da edição original – e que transforma este pequeno livro num objecto de culto. Em tempos de quarentena, é agora com um espírito de irmandade que bebemos das palavras de Bordalo, escritas a 140 anos de distância: “ninguém pode dizer deste Lazareto não beberei”. Brindemos a Bordalo Pinheiro!
—
Nota: as imagens mostradas no texto são da edição original (daí os pontinhos de humidade que não fazem parte desta esmerada edição da PIM).
Sem Comentários