“De todas as invenções de Jules, a que mais divertira os seus amigos foi o sifão.” – eles que desde logo a baptizaram de “garrafa automática do Jules”. Estamos em 1840, e o pequeno Jules caminha a passos largos para se tornar no visionário Jules Verne, ainda que pense estar a uma grande distância temporal da História que realmente vai interessar: “O século XXI era para aqueles quatro amigos do século XIX o longínquo futuro em que tudo seria melhor.”
Neste “No fundo do mar” (Planeta, 2016), o Capitão Nemo – na verdade o autor Miguel García – conta mais uma das aventuras de Jules e companhia a partir dos cadernos que recebeu de Caroline, “na época imaginada pelos meus intrépidos amigos, esse século XXI no qual estarão agora a ler as peripécias de uns jovens de dois séculos atrás“.
Esta aventura começa com uma causa solidária: construir sifões para o Lar onde Marie trabalha, cheios com água de cevada e gás. Um prenúncio do que viria a ser a coca-cola ou, como aqui se chama, refrescola. Depois de saírem do lar, que entretanto se transformou numa divertida e pegajosa batalha campal, os amigos são abordados por Yasmin, que lhes diz que o Capitão Nemo os quer ver com urgência. Eles que, com o Capitão – e o mundo em geral -, têm relações marcadas pela diferença: Marie não gostava que as pessoas soubessem o que fazia nem quem eram os seus amigos; Huan é um rapaz que se gosta de se exibir; Caroline estava convencida de que o seu pai era um inimigo jurado do capitão; e o pai de Jules considerava o marinheiro uma má influência para o filho.
O cenário descrito por Nemo está longe de ser animador: os peixes estão a aparecer mortos com uma cor esverdeada, sobretudo numa zona particular do Estuário do Loire. Estará a causa da sua morte escondida no fundo do mar?
Esta será a primeira vez em que Jules e companhia serão convidados para bordo do mítico Nautilus, um submarino feito para navegar pelas profundezas marítimas. Porém, antes de se aventurarem num mundo onde há seres como uma lula gigante ou um nerval armado em cavaleiro andante, há que passar primeiro a perna a Matheu, o professor de História que diz que “todo o progresso é mau, anti-natural, vai contra a verdadeira essência humana.” Nesta quarta aventura da série, Jules chega-se à frente com uma invenção formidável, de que nem Nemo nos seus melhores e mais líquidos sonhos se lembraria.
Para além das ilustrações que acompanham o livro, há também esquemas, legendas e explicações sobre as invenções e mecanismos saídos da cabeça de Jules, que dão ritmo a uma série que deverá, sobretudo, servir de trampolim às verdadeiras histórias escritas por Jules Verne, um dos grandes visionários da literatura – e do progresso tecnológico.
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