Nunca é demais dizê-lo. À boleia de Grant Morrison e recuando ao ano de 2001, os X-Men tiveram direito a uma soberba reinvenção, trocando os fatos de licra de corte clássico por elegantes blusões de cabedal e outros adereços, capazes de figurar num desfile da Moda Lisboa. Por esta altura, este grupo de mutantes decidiu que era tempo de passar menos vezes pelo ginásio, preferindo antes visitar bares pouco recomendáveis para trocar dois dedos de conversa existencialista.
“Ómega” (G. Floy, 2020), o terceiro dos quatro volumes de capa dura que reúnem a série completa destes New X-Men, apresenta-nos Morrison em estado de graça, transformando o Instituto do Professor Xavier num local de culto obrigatório para os fãs de comics – mesmo para aqueles que olhavam de lado para este grupo de mutantes até Morrison lhes ter dado um valente abanão.
A primeira parte deste volume decorre sob o signo da Laranja Mecânica cortada em gomos por Anthony Burgess, centrando-se num aluno que, após assumir a identidade de Kid Ómega, trata de montar um gangue dedicado, decidindo conquistar a escola e levar a revolução – e o ajuste de contas mutante – para o mundo exterior, tudo com muita droga à mistura. Acompanhamos a turma especial do Professor Xorn, que passou anos preso e cresceu com uma estrela na cabeça; espreitamos pelas frestas o tórrido e telepático romance entre Emma e Scott; saboreamos a vingança de braço dado com Jean, que parece estar em grande sintonia com o seu lado Fénix; tentamos não cair na armadilha dos U-Men, que retiram os órgãos dos X-Men para…, bem, o melhor é mesmo lerem. Em resumo, motins, traições telepáticas e assassínio, numa trama de primeira linha.
A segunda metade do livro coloca-nos na mesma nave e na boa companhia de Ciclope, Wolverine e Fantomex, que decidem regressar a um passado com poucos motivos para ser recordado. A missão a que se entregam é a de acabar com o programa Arma X, responsável pela sua própria criação e, porque não dizê-lo, problemas mentais. “Demasiadas questões. Demasiado vazio. Demasiado de tudo”, num final à bomba sublinhado por um sorriso de louco sem chapéu. Sem dúvida o mais incrível dos volumes publicados à data, e que deixa água na boca para o quarto e último da saga. Venha ele.
Sem Comentários