“Um misto de pós-moderno e meta-ficcional”. É desta forma que José Hartvig de Freitas caracteriza o estilo de Grant Morrison, um argumentista do universo dos comics que, depois de ter passado com distinção um capítulo dedicado à Liga da Justiça, decidiu embarcar numa missão de alto risco. Estávamos então em 2001, cabendo a Morrison, alguém mais associado ao lado mais irreverente da criação, incutir um novo espírito a um grupo de super-heróis que tinha por nome X-Men.
Na altura, o desenho ficou entregue a Frank Quitely, também ele um tipo afastado do mainstream. O resultado desta improvável parceria esteve ao nível do incrível, como poderão agora recordar ou conhecer, pela primeira vez, com a publicação em capa dura de “New X Men 1: E de Extinção” (G. Floy, 2019), que reúne os títulos New X-Men #114-121, o New X-Men Annual #1 e o Manifesto de Grant Morrison para os X-Men. Histórias que acabaram por passar menos tempo no ginásio, preferindo antes uma ida a um bar pouco recomendável para dois dedos de conversa existencialista.
A boa notícia é que toda esta demanda chegará às livrarias portuguesas com o selo da G. Floy, numa edição integral de quatro volumes em capa dura. Imprescindível para os fãs de X-Men ou qualquer devorador de comics, mesmo que, como se lê também no prefácio, tenha acabado por sofrer de algumas das maleitas de séries de longa-duração: “alguma inconsistência nos artistas que a desenharam, a reaparição da cronologia excessivamente complexa da Marvel, a temível “continuidade””.
Regressamos ao Instituto Xavier para Jovens Sobredotados, que treina mutantes e os ensina a controlar os seus poderes e a sobreviver num mundo que, para eles, nada é mais do que hostil. A ameaça dos Sentinelas, robots gigantes concebidos para os detectar e eliminar, poderá estar de volta e a caminho da Ilha de Genosha, que foi entregue a Magneto, que lá criou um refúgio para os mutantes oprimidos, passando do sonho da conquista mundial para o da utopia mutante – ao estilo de um kibutz super-heróico.
Do grupo de mutantes mais cool do planeta, há quem tenha começado a ter mutações secundárias: Hank McCoy transformou-se num felino poderoso com pelo azul; Jean Grey adquiriu poderes telecinéticos; Emma Frost ganhou o poder de transformar a pele em diamante indestrutível.
Já do lado do mal, uma bióloga de nome Cassandra Nova tenta convencer o Dr. Trask, um pacato dentista, de que os mutantes são a maior das ameaças ao ser humano. Aparentemente, terá sido o tio de Trask a construir o primeiro dos sentinelas, que neste momento está a ganhar ferrugem à espera de uma ressurreição – o que acaba por acontecer e levar à morte de 16 milhões de mutantes, Magneto incluído.
Neste primeiro volume, Jean Grey e Ciclope vivem numa relação à beira de um ataque de nervos. Surge também uma nova espécie, auto-denominada de U-Men, que decidiu transcender a orientação da sua espécie. Traficam-se órgãos, contrata-se um tipo de peso de nome Xorn – qualquer coisa como o Ronaldo dos Mutantes – e há até uma história para se ler de forma diferente, virando o livro meio ao contrário. Um arranque fulminante de uma série obrigatória para os apreciadores dos X-Men, que aqui trocam os fatos de licra de corte clássico por elegantes blusões de cabedal e outros adereços capazes de figurar num desfile da Moda Lisboa.
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