Tomás é um pequeno de 12 anos que, após a morte do pai, passou a acreditar que acontecem coisas más às outras pessoas apenas por se encontrarem perto de si. Dessa forma, e para proteger tanto a sua mãe como os amigos, decide fugir de casa, partindo sem rumo ou qualquer ideia do que virá a seguir.
O momento da fuga, porém, não poderia ter vindo em pior altura, uma vez que há um furacão a caminho da cidade. Após escapar por um triz a uma morte que parecia certa, Tomás dá de caras com um mundo desolador: um lugar onde a comida escasseia, as vias de acesso ficaram semidestruídas e os animais de cativeiro circulam agora sem grades à sua volta. “Era como se a cidade tivesse morrido” ou, quem sabe, também o resto do mundo.
Enquanto se dirige para norte, Tomás dá de caras com um pequeno rinoceronte, acabando por ir conquistando aos poucos a confiança deste, tornando-se companheiros inseparáveis – e improváveis – de uma jornada incerta. Um animal que, assume Tomás, “não era seu. Não era de ninguém. Pertencia à natureza, como o vento ou os planetas“.
Em “Não te afastes” (Caminho, 2018), David Machado atravessa o território da perda aplicando-lhe o poder curativo da amizade, onde entre as muitas lições a tirar há, por exemplo, esta: “Podes sempre ver as coisas de outra maneira“.
Um livro que nos mostra uma viagem de autodescoberta e da descoberta dos outros, da inevitabilidade do acaso mas, também, do poder de se fintar o destino, que resulta em qualquer coisa como “A Estrada” de Cormac McCarthy contada aos mais novos.
David Machado é autor de romances e livros infantis – entre estes últimos estão títulos como “A Noite dos Animais Inventados”, “O Tubarão na Banheira”, “Eu Acredito” e Uma Noite Caiu Uma Estrela”. O seu romance “Índice Médio de Felicidade” foi distinguido com o Prémio da União Europeia para a Literatura e o Prémio Salerno Libro d’Europa e adaptado ao cinema.
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