Filipa Martins nasceu em Lisboa em 1983, e é jornalista desde 2004. “Elogio do Passeio Público”, o seu primeiro romance publicado em 2008, recebeu o prémio revelação (ficção) da Associação Portuguesa de Escritores (APE), tendo-se seguido os livros “Quanta Terra” (2009) e “Mustang Branco” (2014).
“Na Memória dos Rouxinóis” (Quetzal, 2018) é um romance feminino (embora as personagens principais sejam homens, que centram toda a história), focado na escrita de uma biografia onde se misturam o passado do biografado, um matemático /cientista em final de carreira que encomendou a sua biografia antes de morrer – e também o passado do biógrafo, que conheceu, em tempos, o biografado e a ele está ligado por laços de afinidade -, e o presente em que decorre o processo de escrita.
Biógrafo e biografado conseguirão, em parte, aquilo que pretendem: não se trata de esquecer, mas antes escrever uma confissão que vê no arrependimento outra forma de se lidar com as recordações. Como disse Filipa Martins numa entrevista recente, “não gosto de heróis, gosto de pessoas imperfeitas, exactamente por isso, para parecerem reais, os meus livros são para sentir pensando”.
“Na Memória dos Rouxinóis” oferece uma escrita contundente – que dá “chapadas de realidade” no leitor – mas também inovadora, com diálogos muito bem escritos e temas cuja sensualidade se quer evidenciar. Interessante é igualmente a permanente incursão pela magia dos números primos e a sua relação estreita com a identidade das personagens, bem como o jogo de xadrez que uma das personagens está sempre a jogar (mentalmente) e que se assume como o jogo da vida e das relações humanas: de poder, de paridade e de submissão.
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