Os últimos anos têm sido bons para os amantes de mangá em Portugal, sobretudo os mais recentes. Se “Kenshin” foi como que a porta de entrada natural neste fantástico universo, tendo também o eterno Akira ganho, na recta final de 2018, uma edição restaurada e revista pelo autor 36 anos depois da primeira publicação – com o selo da JBC Portugal -, outras séries mais recentes têm dado e baralhado cartas, todas com o selo da Devir, entre as quais se destacam One-Punch Man e Assassination Classroom. E, faça-se a devida vénia, à recente “My Hero Academia” (Devir, 2019), assinada por Kohei Horikoshi, que tem dois primeiros volumes incríveis.
Kohei Horikoshi nasceu em 1986, na prefeitura de Aichi, tendo-se licenciado na Universidade de Belas Artes de Nagoia. Ficou conhecido pela série shonen Omagadoki Obutsuen, Barrage e por esta My Hero Academia. Foi também assistente de Yasuki Tanaka, criador de Hitomi no Catoblepas and Kagijin. Horikoshi que, neste seu terceiro trabalho em edição tankobon (volume independente), confessou que se estava a divertir como nunca, dizendo que o objectivo dos seus desenhos é “criar o mangá que mais me entretenha a mim mesmo, enquanto leitor“.
No mundo criado por Horikoshi, 80% da população tem super-poderes – o heroísmo foi mesmo reconhecido pelo Governo como um cargo oficial -, mas há quem, apesar do desejo maior de ser um super-herói, tenha tido o imenso azar de nascer sem qualquer habilidade especial. É o caso do jovem Midoriya Izuku que, perante a mais do que provável impossibilidade de frequentar a Academia de Heróis U.A., sente que a vida terá chegado a um beco sem saída. A juntar a isto, é desde a primeira infância atormentado por Bakugou Katsuki, um convencido de primeira – ou, posto de outra forma mais simpática, “um jovem delinquente com um futuro promissor” – que se diverte a praticar bullying sobre Midoriya como se não houvesse amanhã. Midoriya que, desde muito cedo, percebeu como gira o mundo: “As pessoas não são iguais à nascença. Foi a verdade que aprendi aos quatro anos”.
Apesar de não ter ponta de super-poderes – mesmo com um pai que cospe fogo e uma mãe que atrai sem esforço objectos pequenos -, o jovem Midoriya é um verdadeiro nerd da cena dos heróis, sobretudo quando se fala de All Might, o herói que durante o primeiro volume vai sacando de frases que poderiam servir de filosofia para iniciantes: “Eu sorrio para ignorar a pressão e terror que residem em mim”, ou, ainda, “Não há nada de errado em sonhar. Contudo…também há que ser realista, rapaz”. Será All Might que, confiando no coração de Midoriya, encontrará uma forma de este ingressar na Academia de Heróis, onde irá ter como colega o já mencionado bully. Antes disso, porém, terá de se submeter ao Plano de Admissão American Dream, que envolve 10 meses de treinos loucos, uma praia e uma linha de costa atolada em lixo.
No segundo volume e em nome do amor de mãe, Midoriya enfrenta o perigo com um fato de super-herói super-foleiro, incapaz ainda de controlar as habilidades que herdou, mas tendo de lutar com outros estudantes com habilidades fantásticas para não acabar expulso. A sua nerdice, porém, estava apenas à espera para dar frutos, e mesmo sem super-poderes vai conseguindo levar a água ao seu moinho.
Será tempo de eleger o delegado de turma, descobrir o trabalho de equipa, deixar-se levar pela primeira paixão e, também, de conhecer o herói Número 13, um pacifista por natureza: “Os vossos poderes não servem para ferir pessoas mas para resgatá-las!”. Quem está longe de pensar isso é a União dos Vilões, que chega de rompante para assassinar All Might, que por acaso e por estar a perder a pilha ficou em casa no descanso.
Pelo meio, Kohei Horikoshi vai apresentando todos os personagens em fichas biográficas, seja através do desenho de fatos alternativos ou de textos onde o humor é uma constante, apresentando a data de aniversário, a altura, os gostos, os segredos e algumas curiosidades sobre cada um deles. Uma série com heróis e vilões que, com apenas dois volumes, é já uma para seguir de perto. Venha de lá o terceiro volume!
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