O primeiro volume tinha deixado no ar a ideia de que estaríamos diante de um dos mais castiços comics que a Marvel edita nos dias de hoje, misturando os ares de uma modernidade alternativa com o sentido de humor de Kamala Khan, uma adolescente com pouco espaço para cometer asneiras: nerd, filha de pais rigorosos e, de repente, dotada de “estranhos poderes polimórficos”, que fizeram dela a nova Ms. Marvel. “Geração Perdida” (G. Floy, 2019), o segundo volume da série – reúne os comics Ms. Marvel #6-11 -, mostra que as primeiras impressões foram mais do que acertadas.
Após salvar o irmão do seu melhor amigo, Kamala descobriu que Jersey City tem um vilão chamado “o inventor” que se esconde nas sombras. A sua cabeça está, porém, ocupada com o Xeque Abdullah, que a consegue surpreender com uma das suas máximas: não vê com maus olhos o facto de desobedecer aos pais, saindo de casa às escondidas para ajudar os outros, desde que o faça “com o máximo de honra e dedicação” e com “as qualidades dignas de uma jovem respeitável: coragem, força, sinceridade, compaixão e respeito próprio”. Aconselha-a também a arranjar um mentor, mas pondo de lado a pressa. Este irá manifestar-se “quando o aluno estiver pronto”.
É, uma vez mais, um volume alucinado, sobretudo se pensarmos que parte dele se desenrola nos esgotos, habitados por jacarés e um quase clone de Thomas Edison com uma cabeça de pássaro, e que recebe também a surpreendente visita de Wolverine, de quem Ms. Marvel é fã e a quem dedicou recentemente uma fanfic onde este estava “a lutar contra um alien amorfo que lançava worm holes pelo rabo”.
Wolverine procura o rasto de Julie, uma miúda que desapareceu da Escola Jean Grey, mas já não pode contar com o seu factor de cura – o que, segundo Kamala, faz dele “um homenzinho zangado que gosta de andar ao soco”. Por esta altura já devem ter adivinhado que a aluna Kamala está mais do que pronta.
Atravessado de uma ponta à outra pelo humor hilariante de Kamala, este segundo volume – na habitual capa dura, cortesia da G. Floy – ainda nos coloca diante de crianças que servem de fonte de energia a máquinas, ou apresenta-nos a Medusa, regente de Nova Atilan e Rainha dos Inumanos, que irá revelar a Kamala mais sobre a sua origem.
É, também, um livro-manifesto, no sentido em que deixa uma mensagem a uma geração que tem sido catalogada entre o fardo político e a praga pública, cujos integrantes recebem elogios tão fofinhos quanto parasitas, fedelhos ou mimados: “Se não nos envolvermos com o que se passa no mundo, como podemos saber que não somos enganados pelo génio do mal seguinte que nos quer usar num plano maluco qualquer? Não somos uma geração de falhados de telemóveis colados à mão”. Activismo à séria – mas com ar pouco sério – com o selo da Marvel.
Sem Comentários